Mariza Vieira da Silva Claudia Castellanos Pfeiffer
Nossa análise tem como referencial teórico e metodológico a Análise de Discurso[1], uma teoria e um instrumento de leitura e de interpretação de textos, que pressupõe a relação constitutivaentrelíngua, história e sujeito. Ascartilhassão tomadas, pois, como objetos discursivos que, em condições de produçãoprópriasde uma conjuntura sócio-históricadada, estabelecem uma relação determinada entrehistória, sujeito e conhecimento. Elas produzem e trabalham uma textualidade, retomando e construindo espaços de memória em que estão presentes as cartilhas de alfabetização, através das quais se estabelecem as primeiras relações de umsujeito urbano escolarizadocom a escrita, com a leitura, com a interpretação. Levamos em consideração, assim, que o texto, unidade imaginária de análise, tem uma relação com outros textos – intertextualidade – e o dito significa em relação ao não-dito, mas também em relação a um já-dito – o interdiscurso, uma memória discursiva de ordem não cronológica e inconsciente. É por isso que compreendemos a formulação, o dito em uma situação dada,comotendo, pois, uma historicidade. Há, portanto, condições de produção a serem explicitadas e analisadas e que deixam seus vestígios na forma material da língua.
A questão que norteou nosso trabalho foi a de como o discurso científico sobre o “meio ambiente”quecircula em nossa sociedade, através decartilhas, um instrumento linguístico-pedagógico, produz efeitos de sentido e efeitos leitor. O material de análise, recortado, de umcorpusmais amplo,incidiu sobreumacartilhadirigidamais diretamente a um público escolar eoutras, dirigidas a cidadãos brasileiros.
Escola e Urbanização– condições de produção dascartilhasescolares
AEscolaé uma instituição gerida em suas grandes diretrizes pelo Estado, marcada por realidades complexas e contraditórias, e que se caracteriza por colocar em jogo práticas, teorias, metodologias e tecnologiasem relação às demandas dos diferentes grupos sociaisde umadadasociedade.A Escola é uma instituição da modernidade, em que se dãoconfrontose aliançasde forças,que não são individuais, nem universais, mas que se organizam em determinadas materialidades, produzindo efeitos de sentido, efeitos ideológicos.A Escola,mesmo não tendo permanecidoidêntica a si mesma, torna-se parâmetro e referência para construir e avaliar todas as
[1]Nossas referências teóricas, em termos de filiações fundadoras da construção da Análise de Discurso, remetem a Pêcheux e Orlandi, sobretudo.