Linguagem e educação social: a relação sujeito, indivíduo e pessoa


resumo resumo

Eni Puccinelli Orlandi



Processo de constituição do sujeito: interpelação pela ideologia e individuação pelo Estado

Retomando alguns aspectos de uma teorização que temos elaborado, podemos observar o trajeto do processo de constituição do sujeito em seus dois momentos principais: o da interpelação do indivíduo pela ideologia e o da individuação da forma sujeito pelo Estado (ORLANDI, 2001). É na individuação do sujeito que incide o modo como a instituição escola e seus discursos o produzem como tal, estabelecendo as condições para seu processo de identificação com este ou aquele sentido, esta ou aquela posição sujeito na sociedade e na história.

O momento da individuação do sujeito, em seus diferentes modos, é crucial para a relação do Estado com o sujeito e deste com seu processo de identificação, pois daí resultam os diferentes sentidos trabalhados em sua formação e o modo como ele vai se inscrever em diferentes formações discursivas: repetição e diferença aí jogam o jogo da identificação, constituindo identidades. Este sujeito, individuado pela instituição escola e os discursos do ensino que nela circulam, vai se identificar, por sua inscrição em uma formação discursiva, com a posição-sujeito que constitui a pessoa com deficiência ou pela repetição do imaginário social que o segrega da sociedade em que vive, ou vai se firmar na posição sujeito social com suas práticas afirmativas e transformadoras de sua condição, dado o espaço de significação que lhe será propiciado (ou não), em sua individuação, e em que ele poderá se significar de outras maneiras, não estabilizadas no imaginário social.

A interpelação pela ideologia preside a sua individuação pelo Estado, que, na articulação do simbólico com o político, administra as relações de poder na sociedade, e, consequentemente, a gestão das relações de forças e de sentidos.

Os diferentes modos de individuação do sujeito pelo Estado, através das instituições e discursos, resultam, como sabemos, em um indivíduo ao mesmo tempo responsável e dono de sua vontade, com direitos e deveres, e livre circulação social. Esta é a sua forma sujeito histórico: o sujeito do capitalismo. É este sujeito, individuado, que vai entrar no processo de identificação. Este não é o indivíduo psicobiológico, mas o que já sofreu a interpelação ideológica e a ação do Estado. Trata-se do indivíduo em seu estatuto sóciopolítico.