Revelando o outro: fotojornalismo e representações da pobreza no sertão


resumo resumo

Thiago Manchini de Campos



 

Quando pensamos o texto pensamos: em sua materialidade (com sua forma, suas marcas e seus vestígios); como historicidade significante e significada (e não como “documento” ou “ilustração”); como parte da relação mais complexa e não coincidente entre memória/discurso/texto; como unidade de análise que mostra acentuadamente a importância de se ter à disposição um dispositivo analítico, compatível com a natureza dessa unidade (...). Não mais como unidade linguística disponível, preexistente, espontânea, naturalizada, mas o texto em sua forma material, como parte de um processo pelo qual se tem acesso indireto à discursividade. (ibid., p12-13).

 

Cabe então ao analista compreender o texto em sua materialidade, como objeto simbólico e histórico, sendo que é condição para a significação o seu vínculo a determinadas condições de produção. Colocando em outros termos, palavras e imagens não significam em si, e sim porque são dotadas de textualidade, “porque sua interpretação deriva de um discurso que as sustenta, que as provê de realidade significativa.” (ibid., p.86). Se para o leitor o texto é a unidade empírica e imaginária produzida por um autor e caracterizada por sequências organizadas de modo “coeso” e “coerente”, para o analista é “unidade de análise afetada pelas condições de produção e pela memória (...) lugar da relação com a representação física da linguagem, onde ele é som, letra, espaço, dimensão direcionada, tamanho – material bruto – mas é sobretudo espaço significante” (ibid, p.89). Esta reflexão a nível teórico sinaliza o modo específico no qual a AD executa o trabalho com o texto e sua materialidade discursiva já que, ao objeto teórico discurso corresponde o domínio analítico texto.

As consequências de se pensar a abertura do simbólico e as materialidades significantes , operacionalizando-as sob a alçada da noção discursiva de texto, são de suma importância para o trabalho com imagens e, em nosso caso específico, com fotografia. Segundo Silva (2004, p.44)

 

A fotografia enquanto objeto discursivo passa a ser, como todo discurso, atravessada tanto pelas significações estabilizadas quanto pelos deslizes de sentidos, funcionando como linguagem em movimento que tem seus sentidos dependentes do imaginário. A fotografia como objeto de estudos discursivos, constitui-se como um lugar onde há jogos de sentidos, constitui-se como textualidade atravessada por diferentes formações discursivas e pela diversidade de sujeitos.

 

O fato de abordarmos a fotografia através de um modelo discursivo permite pensar seu funcionamento via a noção de memória discursiva, já que a mesma implica em afirmar que todo e qualquer discurso só é interpretável quando colocado em referência a tal memória: o “antes” e o “alhures” do dito. Do mesmo modo as imagens