O estigma da ameaça ao emprego pelos periféricos na periferia: crise e imigração no Brasil


resumo resumo

Patricia Villen



Logo, tratam-se de questões com raízes antigas, mas que, hoje, se manifestam a partir de outra base social dos fluxos migratórios, compreendido o refúgio, que é principalmente proveniente de países periféricos, em geral não-branca. Esse perfil sociológico da imigração rediscute, agora no seio das próprias periferias, o que Sayad (1998) chamou de “paradoxos da alteridade”, referindo-se às dinâmicas da imigração proveniente de países periféricos naqueles centrais.

Na atualidade do Brasil, com as taxas de desemprego que se anunciam, de novo, graves para os próximos anos, não serão poucos os desafios colocados pelo contexto de intensificação dos movimentos migratórios internacionais em escala global. Sem dúvida, a figura do imigrante será muito exposta tanto à exploração do seu trabalho, quanto à discriminação, ou mesmo a manifestações de xenofobia.

Nesse sentido, é preciso, antes de tudo, entender as características dessa base sócio-histórica da imigração em sua relação com o trabalho, ou seja, a particularidade da força de trabalho de imigrantes e refugiados provenientes de países periféricos que, por meio dos deslocamentos internacionais, se encontram novamente vivendo e trabalhando num país periférico: daí a denominação periféricos na periferia, que será aprofundada a seguir.

Com esse intuito, serão, na primeira seção, contextualizados os fluxos provenientes das periferias do capitalismo para o Brasil na segunda metade do século XX, com especial atenção às dinâmicas do fenômeno no contexto após a eclosão da crise nos países centrais (2007). Na segunda seção, serão problematizados os fatores que ajudam a entender a condição particular desses imigrantes e sua relação com a inserção em empregos altamente marcados pela precarização. Essas seções trazem elementos para se compreender a denominação sugerida para esses imigrantes e refugiados, qual seja, de periféricos na periferia, bem como para se discutir as características e as problemáticas dessa base social da imigração no Brasil em sua relação com o trabalho, em particular no que se refere ao seu estigma de “ameaça ao emprego”.

A mudança dos fluxos internacionais e seu reflexo no Brasil

Na segunda metade do século XX, em particular depois da crise dos anos 1970, houve grandes transformações nas dinâmicas dos fluxos migratórios internacionais em escala mundial. Com a exceção de algumas regiões do Oriente Médio receptoras desses fluxos, os países da periferia do capitalismo – não mais a Europa – emergem, nesse período, como principais focos dos movimentos populacionais em escala internacional, ou seja, como produtores de emigrantes e refugiados.