Do garrafeiro ao catador de materiais recicláveis: o (re) surgimento de um sujeito do projeto urbano
Rubiamara Pasinatto
[...] as condições de produção [...] compreendem fundamentalmente os sujeitos e a situação. Também a memória faz parte da produção do discurso. A maneira como a memória “aciona”, faz valer, as condições de produção é fundamental. [...] é o contexto imediato. [...] incluem o contexto sócio-histórico, ideológico. (ORLANDI, 2001, p. 30).
Ousamos então a resumir as condições de produção às circunstâncias da enunciação, ou seja, o aqui e o agora do dito, no contexto imediato e ainda ao contexto sócio-histórico e ideológico. Ambos os sentidos não podem ser separados na situação de linguagem, pois funcionam em conjunto.
Na sequência passamos a discutir algumas das categorias que são definidas pelas condições de produção e que serão importantes para a parcela analítica que pretendemos realizar neste estudo.
Sujeito e seus desdobramentos no discurso
Uma das principais categorias da Análise de Discurso e que consideramos essencial para a investigação que estamos propondo é o sujeito. A disciplina postula que não existe discurso sem sujeito e, do mesmo modo, que não há sujeito sem ideologia.
A noção de sujeito foi durante muito tempofragmentada pelos diferentes modelos linguísticos, chegando a ser ignorada por alguns teóricos. Um percurso bastante imprevisível até chegarmos ao modelo projetado pela teoria pecheutiana. Indursky (2000) comenta que nos estudos de Saussure, os quais dão ênfase à língua, não há espaço para sujeito.Já em Chomsk:“[...] o sujeito é reduzido a uma mera posição estrutural [...] e os estudos linguísticos limitam-se a observar se tal posição está preenchida ou não ou [...] o item lexical é dotado do traço + ou - humano”. (INDURSKY, 2000, p.112,123).
Por último, a autora retoma Benveniste, o qual vê o sujeito no âmbito da pessoal verbal, no tempo e no espaço.
O sujeito para a ADtambém passou por reformulações. Em sua obra Semântica e Discurso, Pêcheux (2009) afirma que o lugar do sujeito em sua tese não évazio,pois é afetado pelo inconsciente e interpelado pela ideologia, sendo preenchido por aquilo que ele designa de forma-sujeito[1], ou sujeito do saber deuma determinada Formação Discursiva (FD).
[1]O conceito de forma-sujeito é introduzido por Althusser na obra Posições I (1978, p.178), onde ele explica que um indivíduo só pode ser agente de uma prática social se revestir da forma de sujeito.