A pátria (s)em chuteiras: reescritas do Brasil na Copa das Confederações


resumo resumo

Júlia Almeida



do “popular” por parte do Estado, é resultante de uma relação política (ORTIZ, 1994), é no esteio dessas iniciativas que se coloca este texto.

Acreditamos que as manifestações que se sucedem ao longo do mês de junho de 2013 no Brasil colocam fundamentalmente em questão o modo como o Brasil e os brasileiros foram essencializados, revolvendo o repertório de aforismos e frases que se tornaram “verdades” naturalizadas sobre o Brasil ao longo do último século: “o gigante adormecido”, “o país do futebol”, “o Brasil não é um país sério”, a “pátria de chuteiras”, “o país do futuro” etc. Nossa hipótese é de que esse trabalho discursivo feito por parte da população brasileira nos cartazes, mas também em manifestos e iconotextos em circulação na internet, incide justamente sobre o material discursivo que pretendeu fixar o Brasil e os brasileiros em determinados campos de sentidos; um trabalho coletivo de reapropriação dos enunciados que tem nos subjetivado como brasileiros, em geral subvertendo e desautorizando discursos consolidados (subversão), mas também reafirmando expressões e sentidos atribuídos (captação), conforme as noções de Dominique Maingueneau (2004).  É, pois, com relação ao interdiscurso, pensado como “espaço de trocas entre vários discursos convenientemente escolhidos” (MAINGUENEAU, 2008a, p. 20) que nos debruçamos sobre esses enunciados dos cartazes ou slogans.

Segundo Maingueneau (2011, p. 40-41), o slogan, e por extensão o slogan político ou militante, que encontramos nas faixas e cartazes das manifestações, pertencem, assim como os provérbios e as máximas, à classe das aforizações ou das “frases sem texto” que “de maneira constitutiva, existem fora de qualquer texto”; são também aforizações, mas de outra classe, as frases destacadas de um texto nas citações. Segundo o autor, os slogans em manifestações e protestos circulam em grupos transitórios que

 

[...] a enunciação do slogan tem exatamente por função de unir. Quando acontece uma manifestação que reúne uma população heterogênea em torno de uma questão atual, o slogan não tem outra comunidade-suporte senão o próprio grupo que o está enunciando; A comunidade transitória fabrica uma tesauro conjuntural (os slogans co-presentes no espaço-tempo dessa manifestação) que mistura slogans de circunstância e outros que passam de uma manifestação a outra (MAINGUENEAU, 2008b, p. 105).

 

Consideramos os slogans dos cartazes como porta de entrada, por excelência, para essa reverberação cultural em processo nos modos de dizer o país. Sondaremos aqui algumas formulações dominantes sobre o país que são reescritas nos slogans dos