Revelando o outro: fotojornalismo e representações da pobreza no sertão


resumo resumo

Thiago Manchini de Campos



são inscritas em o que podemos denominar de “cultura visual”, a qual opera a partir de uma memória visual: o “desde sempre” da imagem.

 

Memória, Interdiscurso, Formações Discursivas: aparato de análise

Ao tocar a problemática da imagem Pêcheux (1999, p.55) afirma que essa “encontra assim a análise de discurso por outro viés: não mais a imagem legível na transparência, por que um discurso a atravessa e a constitui, mas a imagem opaca e muda”. O primado da opacidade da imagem tem como consequência, no que diz respeito ao seu funcionamento, colocá-la em relação ao processo de significação que é indissociável do interdiscurso. Na passagem do visível ao nomeado a imagem atua como um operador de memória social contendo, nela mesma, um programa ou gesto de leitura. Orlandi (2003, p.15) constata que é nessa memória constitutiva que “os sentidos se estabilizam e se movimentam. Uma coisa ou outra – a estabilização ou a transformação – vai depender da natureza do gesto de interpretação produzido, da posição do sujeito na relação com o interdiscurso”. Dessa forma a noção de interdiscurso, definida como “aquilo que fala antes, em outro lugar, independentemente (...) o que chamamos de memória discursiva (...) e que retorna sob a forma do pré-construído” (Pêcheux, 1999, p.31) acaba por assumir uma grande importância ao se pensar a materialidade significante de fotografias em suas especificidades:

 

Tocamos aqui um dos pontos de encontro com a questão da memória como estruturação de materialidade discursiva complexa, estendida em uma dialética da repetição e da regularização: a memória discursiva seria aquilo que, face a um texto que surge como acontecimento a ler, vem restabelecer os “implícitos” (quer dizer, mais tecnicamente, os pré-construídos, elementos citados e relatados, discursos-transversos, etc.) de que sua leitura necessita: a condição do legível em relação ao próprio legível (...) A questão é saber onde residem esses famosos implícitos, que estão “ausentes por sua presença” na leitura da sequência: estão eles disponíveis na memória discursiva como em um fundo de gaveta, um registro oculto? (ibid., p.52)

 

A densidade da fala de Pêcheux contribui para com a construção de um aparato discursivo que dê conta de analisar a materialidade imagética. Primeiramente porque aponta para a noção de pré-construído, intimamente ligada à de interdiscurso, e que age em direção a desestabilizar a oposição entre o exterior e o interior de uma formação discursiva. Em segundo lugar descreve o funcionamento da memória discursiva, com base na repetição que visa a regularização através do que ele nomeia de implícitos” e, por último, coloca a localização dos implícitos face à necessidade de uma sequência.