Do garrafeiro ao catador de materiais recicláveis: o (re) surgimento de um sujeito do projeto urbano
Rubiamara Pasinatto
O conceito de FD apresentado por Pêcheux foi tomado de Foucault, com o diferencial de agregar a questão da ideologia. Para a AD, as palavras e as expressões do sujeito mudam de sentido conforme as posições ocupadas por ele, sempre em referência às formações ideológicas. Diante disso, apresentamos a seguir a definição de formação discursiva:
Chamaremos [...] de formações discursivas aquilo que, numa formaçãoideológica dada, isto é, a partir de uma posição numa conjuntura dada,determinada pelo estado de luta de classes, determina o que pode e deve ser
dito (articulado sob a forma de uma arenga, de um sermão, de um panfleto de uma exposição, de um programa, etc.). (PÊCHEUX, 2009, p. 147).
Portanto, como já dissemos anteriormente, a noção de FD proposta por Pêcheux corresponde a um domínio de saber, formado por enunciados que designam uma forma de relacionamento com a ideologia e regulando a enunciação do sujeito, ou seja, o que deve e pode dizer.
A formação discursiva implica que consideremos a possibilidade de que as palavras e expressões podem mudar de sentido ao passar de uma formação discursiva para outra, assim como pode ocorrer o inverso, ou seja, palavras e expressões diferentes, no interior de um FD passam a ter o mesmo sentido. Isto porque o “[...] sentido se constitui em cada formação discursiva, nas relações que tais palavras, expressões ou proposições mantêm com outras palavras [...] da mesma formação discursiva.” (PÊCHEUX, 2009, p. 147, 148).
No jogo de relações entre as palavras, há sempre uma memória de sentidos que se repete, a qual Pêcheux (2009) nominou de interdiscurso, ou seja, um “[...] “todo complexo com dominante” das formações discursivas [...]”. (PÊCHEUX, 2009, p.149).
Ampliando a definição pecheutiana, Orlandi (2010) explica que o interdiscurso determina a formação discursiva, pois é próprio da FD dissimular na transparência do sentido, a objetividade material do interdiscurso que a determina. De acordo com a estudiosa, essa objetividade reside no fato de que algo fala sempre antes em outro lugar. Em outras palavras seria um dizer já-dito, que representa o saber, a memória discursiva. Se o interdiscurso representa o conjunto de formulações ditas e esquecidas e está no eixo vertical, é pertinente lembrarmos também o eixo horizontal, do intradiscurso, “[...] que seria o eixo da formulação [...] aquilo que estamos dizendo naquele momento dado, em condições dadas.” (ORLANDI, 2001, p. 33).
Temos que considerar aqui “[...] que é pelo funcionamento do interdiscurso que o sujeito não pode reconhecer sua subordinação-assujeitamento ao Outro [...].”