A pátria (s)em chuteiras: reescritas do Brasil na Copa das Confederações


resumo resumo

Júlia Almeida



protestos dando ênfase ao mito dopaís do futebol” e ao ethos do brasileiro-torcedor daí resultante. A ocupação pelo cidadão dos espaços físicos e simbólicos do torcedor durante a Copa das Confederações é acompanhada por uma tomada de posição em relação aos discursos que fundaram alguns dos modos, hoje canônicos, de perceber e dizer o país, que constituem a nossa memória discursiva do nacional, aquela que “torna possível a toda formação discursiva fazer circular formulações anteriores, já enunciadas” (BRANDÃO, 1998, p. 76), a começar pela formulação do “gigante adormecido”.

 

Reescrevendo o Brasil e os brasileiros

Sabemos que desde o início de século XX o país habituou-se a traduzir suas dificuldades e contradições quando contrastado com as potências europeias, na fórmula do “gigante adormecido”, que “consistia em sublimar as dificuldades do presente e transformar a sensação de inferioridade em um mito de superioridade [...] cujo destino de grandiosidade se cumprirá no futuro” (SEVCENKO, 2003, p. 106). Esse discurso atravessou o século em fórmulas como “o país do futuro”, que vimos ser recentemente atestada por Barak Obama quando disse, em visita ao Brasil, que o futuro teria chegado para o “país do futuro”, agora com sua economia situada entre as seis maiores potências mundiais e, como dizem alguns analistas internacionais, “invejado” por muitos países desenvolvidos.

A segunda década do século XXI inicia-se, assim, com uma promessa de realização desse mito do gigante adormecido, que a publicidade televisiva recente ajudou a desrecalcar, quando vimos as imagens do gigante de matas e florestas levantar-se do solo e andar numa propaganda da marca Johnnie Walker. A realização dos grandes eventos esportivos no país seria assim o momento de coroamento dessas conquistas e consolidação de uma imagem-potência do Brasil, mas também, como chamamos em outro texto, de reatualização de um país-só-imagem, “como visibilidade esvaziada de possibilidades reais de existência” (ALMEIDA, 2013b, p. 119). 

Não é pouco que essa grande operação de refundação de uma imagem positiva para o Brasil com grandes eventos e custos (seja a fatura da Copa ou seus custos sociais) tenha sido objeto de crítica no momento preciso em que se pretendia consolidá-la no imaginário nacional e internacional. E é realmente expressivo que um outro sentido de “o gigante acordou” seja ativado para esse momento na voz dos manifestantes, não como imagem resultante do ranking das economias internacionais ou