No leva-e-traz da política científica: Uma interrogação sobre as “relações sociais”


resumo resumo

Eni Puccinelli Orlandi



Ela sabe que é vitoriosa? Talvez saiba, daquele saber que a gente não sabe. Mas quase morre dele. A memória, saber discursivo que fala por conta própria (E.Orlandi, 2012). De tanta memória carregada, de tanta coisa sofrida, de tanta esperança: eu queria por que queria que ele estudasse, diz ela.

 

Na invenção da vida, há laços que se atam e os que se desatam

Não chamaria o que sai destes depoimentos, desses relatos de vida/narrativas, de resistência. Na realidade, vivem como podem, sobre-vivem, ou, aproveitando o mote do título do encontro: convivem com o sistema instituído, com relações sociais indiferentes a suas vidas em sociedade, e vivem as rasteiras da vida com artimanhas. Inventam. Nelas, o que se vê é ajuda de próximos: não pelo parentesco, mas pelo laço que os ligam, ou que eles atam; e a não desistência. Ressignificam? Nem tanto. Inventam a vida no que nem faz sentido. Daí a palavra invenção que é título deste item: invenção da vida. Artimanha. Invenção, aqui, tem um sentido bem particular, pois implica o dessignificado. Vidas anuladas. Sentidos desfeitos por passarem ao largo das relações sociais que medem a significância dos sujeitos no sistema. O resto.

 

Artimanha

Se procurarmos “artimanha” nos dicionários, encontramos vários sentidos e sinônimos: maneira de enganar (alguém) para conseguir alguma coisa; estratagema. Sinônimo: ardil, artifício, astúcia, dolo, endrômina, estratagema, fraude, intrujice, sendo que estratagema tem como sinônimo, “ardil empregado na guerra para enganar o inimigo, manha, astúcia, subterfúgio. Se buscamos os sentidos mais relacionados a estratégia, podemos encontrar os sentidos que me parecem mais apropriados para a formação discursiva que observamos nos depoimentos acima mencionados: estratégia.

Estratégia, segundo Mintzberg (2004), trata-se da forma de pensar no futuro, integrada no processo decisório, com base em um procedimento formalizado e articulador de resultados. A palavra vem do grego antigo stratègós (de stratos, "exército", e ago, "liderança" ou "comando" tendo significado inicialmente "a arte do general") e designava o comandante militar, à época de democracia ateniense. Atualmente, o conceito de estratégia é uma das palavras mais utilizadas na vida empresarial e encontra-se abundantemente na literatura da especialidade.

Podemos guardar desta definição o fato de que a artimanha é uma forma de pensar no futuro, através de decisões que levam a um resultado. Mas pensando as