Do garrafeiro ao catador de materiais recicláveis: o (re) surgimento de um sujeito do projeto urbano
Rubiamara Pasinatto
(ORLANDI, 2010, p. 18), devido ao fato do efeito da transparência que confere a ele a impressão de autonomia, ou, de que ele é a fonte deste dizer. Dizemos então que para que uma palavra tenha sentido em determinada formação discursiva, é necessário que ela já faça sentido antes, “[...] isso é que chamamos de historicidade na análise de discurso [...] efeito de pré-construído [...] sustentando todo o dizer.” (ORLANDI, 2010, p.18).
Compreendemos então, que na Análise de Discurso, a noção de sujeito e de formação discursiva estão imbricadas, pois é por meio da relação de ambas que chegamos ao funcionamento do sujeito no discurso. A respeito disso, Pêcheux (1988) propõe então que “[...] os indivíduos são “interpelados”em sujeitos-falantes (em sujeitos de seu discurso), pelas formações discursivas que representam “na linguagem” as formações ideológicas que lhes são correspondentes.” (PÊCHEUX, 2009, p. 147).
Cabe aqui ressaltarmos que o termo interpelação usado na conjuntura pecheutiana foi trazido inicialmente por Althusser (1985) na obra Aparelhos ideológicos do Estado, na qual propõe que a ideologia interpela os indivíduos em quanto sujeitos concretos, por meio do funcionamento da categoria de sujeito.
A respeito disso, Dorneles (2011) complementa que o Estado, segundo já foi marcado por Althusser, tem seus aparelhos ideológicos e é por eles que “[...] irradia o poder. Neles concentra força para controlara ordem social necessária aos interesses do grupo dominante.” (DORNELES, 2011, p. 37).
Entendemos então, que na perspectiva da AD, não há como visualizar o sujeito e o sentido, sem pensar na ideologia, já que é pelo funcionamento ideológico que o indivíduo se constitui em sujeito e, a partir disso, imaginariamente passa a se identificar com a forma-sujeito de uma FD.
Há, segundo Indursky (2008), na ideologia as propriedades da diferença e da divisão. A formação discursiva também apresenta um processo contraditório, e assim como a ideologia que não é idêntica a si mesma, a FD é, concomitantemente, idêntica e dividida. Esta divisão, de acordo com a autora, que deixa a formação discursiva porosa, permite que saberes provenientes de outras formações se apresentem.
Assim, de acordo com Indursky (2008), se FD é dividida, conforme explicamos acima, a forma-sujeito também é heterogênea em si mesma, ou seja, tem espaço para ambiguidade e a diferença em seu interior.“Só assim é possível pensar em uma formação discursiva heterogênea que continua comportando um sujeito histórico como