A pátria (s)em chuteiras: reescritas do Brasil na Copa das Confederações


resumo resumo

Júlia Almeida



da publicidade do governo e das grandes marcas, mas como efeito da população nas ruas: “o povo acordou”.

O “gigante”, como metáfora oficial do país, que no discurso dominante das elites tantas vezes opôs-se ao povo, considerado o empecilho e não uma potência da nação, nos cartazes e nos coros das manifestações torna-se o povo nas ruas em prol dos seus direitos e de outra relação entre o cidadão e o Estado. Diríamos, nos termos que Possenti (2011, p. 61) usa para retomar a noção de fórmula de Jean Pierre-Faye/Alice Krieg-Planque que a fórmulatranspõe também fronteiras ideológicas, passa de uma formação discursiva a outra(s)”. Inúmeros cartazes pactuam com essa vontade de ver e ter essa irrupção da cidadania – o povo acordado – de modo permanente e não há muito ganho em reproduzi-los aqui. Mais interessante é perceber como se afirma nesses enunciados um ethos entendido no sentido antropológico como tom, caráter, disposição, estilo moral e estético de um povo (GEERTZ, 1978) que se opõe às teses dominantes que circulam de forma mais ou menos fixa na frase “o problema do Brasil é o povo”.

 

O Brasil é um país SURREAL:

tomate é ouro, vinagre é bomba

leite é formol, menor é anjo,

palmada é crime, cerveja é água,

carro é arma, política é piada,

povo é problema

E PROBLEMA SEMPRE

É A SOLUÇÃO

 

A precipitação da população para as ruas e essa enunciação coletiva não deixam de ser um novo acerto de contas com aquela formação discursiva que teve em Louis de Couty, Conde de Gobineau, uma de suas formulações mais contundentes na frase “o Brasil não tem povo”, reforçando uma percepção negativa da participação do povo e do desenvolvimento da cidadania no Brasil (CARVALHO, 2011, p. 10). As elites simbólicas no país não raramente corroboraram essa afirmação, muitas vezes com ênfase na rejeição das matrizes étnicas da população: o Brasil “envergonhado do Brasil, em particular do Brasil pobre e do Brasil negro” (CARVALHO, 2011, p. 41). Que nessa formação não se pautam as condições de existência de um povo cidadão (educação, renda, saúde etc.) isso é irrelevante para quem afirma o seu resultado como verdade.

Mas não é sem titubear que o gigante acorda.  Alguns, diante das metáforas do “sono” e das incertezas do movimento, parodiam o sonambulismo do gigante apressando um desfecho final. De nossa perspectiva, vemos vir à tona a experimentação