Revelando o outro: fotojornalismo e representações da pobreza no sertão


resumo resumo

Thiago Manchini de Campos



Fotojornalismo e a construção da factualidade da imagem

O fotojornalismo[3], como prática caracterizada por “reportar” e/ou “narrar”, foi consolidado na Europa durante o primeiro período pós guerra (1919 – 1933). Segundo Guadagnucci (2010, p.8) “este é o momento em que a atividade ganha força, pois pela primeira vez na história a fotografia suplantou o texto, que agora aparecia como um complemento da imagem, reduzido a legendas.” O surgimento de aparatos menores e mais práticos de captura de imagens ocasionou uma mudança nas convenções da fotografia ao permitir registrar sem ter que recorrer ao ato de posar. Tal deslocamento atribuiu à flagrante importância estética e social, tornando-se o padrão para o fotojornalismo. A popularização da fotografia, atribuída em grande parte à portabilidade da câmera levou, na década de 1950, ao rompimento de fronteiras temáticas e ao desenvolvimento da foto-reportagem, fato que desestabilizou as margens, antes bem delimitadas, da arte e informação. A consequência imediata desta nova práxis levou a que o trabalho de alguns fotógrafos “de imprensa” se confundisse cada vez mais como um modo de expressão artística.

O acontecimento da popularização da fotografia e o desenvolvimento da foto-reportagem potencializaram a “evidência da imagem”, que pode ser resumida como o efeito ideológico fundado na ilusão de acesso direto aos fatos sem a mediação do texto escrito. É este efeito de objetividade que fortaleceu a relação da fotografia com o jornalismo. Segundo Mraz (2006),

 

O fotojornalismo oferece a oportunidade de fazer coincidir os dois polos da fotografia: a informação e a expressividade. Na medida em que esta relação se aproxima do lado informativo, a imagem fica em seu aspecto documental, que é o que acontece no fotojornalismo tradicional. Na medida em que pende para o lado expressivo, converte-se em símbolo, em uma arte descontextualizada. O melhor fotojornalismo faz coincidir o expressivo e o informativo para criar uma metáfora, uma imagem que contém informação sobre um acontecimento que, ao mesmo tempo, está encarnado com uma força estética para transformá-lo em uma representação de uma referência mais ampla.

 

Mraz menciona que a práxis do fotojornalismo é construída em torno da ilusão de que o fotógrafo não infere no ato fotográfico: o olhar é passivo, limitando-se a

 

 



[3] O tema é muito denso para ser abordado aqui. Aos interessados, além dos autores mencionados no início do texto, remeto também a cinco pesquisas desenvolvidas na UNICAMP e que certamente poderão abrir o leque para outras leituras: SÔLHA, H. (1998); SILVA, M. (2004); BODSTEIN, C. (2006); GUADAGNUCCI, J. (2010); CAMPOS, T. M. (2013).