Linguagem e educação social: a relação sujeito, indivíduo e pessoa


resumo resumo

Eni Puccinelli Orlandi



Estes discursos parecem falar de um sujeito universal em que não temos o político, nem a ideologia. No entanto, é importante, nesta linha de reflexão, considerarmos que vivemos no sistema capitalista, em que a razão é a razão capitalista. O que nos leva a perguntar o que é democracia, o que é igualdade, o que é liberdade para este sistema. No capitalismo, o indivíduo não é visto como pessoa pensante, capaz de decidir e participar, mas como consumidor potencial. A educação aparece como um déficit a ser corrigido, na busca do desenvolvimento, que é significado pelo acesso ao trabalho e ao mercado.

Por seu lado, as políticas públicas distinguem as posições-sujeito em suas práticas sociais, pelo corpo, pela situação econômica e social, pela localização geográfica. Disto resulta que a educação torna-se só uma questão de capacitação, de treinamento para adaptar os sujeitos a estas divisões, sem, no entanto, desorganizar os seus modos de discriminação[3].

Transformar este estado de coisas, este funcionamento ideológico, interrogar o que é dito, neste imaginário social, como democracia, como igualdade, só pode se dar em uma relação com uma forma de conhecimento que pense uma relação dinâmica entre indivíduo (sujeito individuado) e sociedade (ORLANDI, 2013). Isto porque, segundo o que pensamos, a instituição não trata com sujeitos, mas com indivíduos no sistema capitalista, que é seu modo de serializar, dividir os sujeitos em suas relações. Para formar grupo, este indivíduo precisa deslizar para a posição-sujeito, pois é na posição-sujeito que este indivíduo, assim serializado pela sociedade capitalista, pode tornar-se parte de um grupo social, encontrar-se objetivos comuns, e identificar-se, resistindo (ou não).



[3]Importa aqui afirmarmos algo que, em geral, tem passado sem discussão: se existe a corrupção é porque o corruptor encontra-se com o corrompido. Também se existe a intolerância é porque há o intolerante. Nossa questão é justamente compreender o processo de produção desse sujeito intolerante. E aí encontramos os discursos e as instituições em seu funcionamento, através de suas práticas. E, mais uma vez, reafirma-se o caráter social da educação, que é o que estamos procurando acentuar ao falar em “educação social”.