Revelando o outro: fotojornalismo e representações da pobreza no sertão


resumo resumo

Thiago Manchini de Campos



registrar os acontecimentos “tal e qual” o seu desenrolar. Este é um ponto elementar pois, além de legitimar a credibilidade documental da imagem, estrutura também a linguagem desta a partir de "códigos de objetividade" que, em tese, ocultam o efeito causado pela presença do fotojornalista: “O pressuposto de que o descobrimento e a não-interferência dão impulso ao ato fotográfico é particularmente relevante no fotojornalismo, em que a veracidade fotográfica aparentemente transparente combina-se com a suposta objetividade do jornalismo.” (ibid.). Schaeffer (1996, p.73) ao comentar sobre a suposta objetividade do fotojornalismo afirma que a “utilização da imagem fotográfica para a transmissão de informações tem estatuto de testemunhos visuais. Aqui, a imagem é com frequência considerada como tendo função de uma “prova” para o conjunto das informações verbais que a acompanham.” A ilusão da objetividade visual potencializa e legitima o modo especifico do fotojornalismo reportar a imagem e o acontecimento: a narrativa. Uma das características principais deste “meio” é a insuficiência da fotografia isolada. A criação do enredo se dá através da sequêncialização de imagens que, em sua “objetividade”, constroem o evento e fornecem ao leitor insights” sobre as circunstâncias do acontecido. Seja a seca no sertão ou a violência nos centros urbanos, a imagem sempre se apresenta como fato: uma imagem vale mais do que mil palavras.

Assim como qualquer materialidade significante, a fotografia tem na interpretação um elemento crucial que aponta para a abertura do simbólico. Desse modo objetividade e narrativa, ao construírem um espaço geográfico, temporal e ideológico de leitura, apresentam-se como efeito de sentido de um determinado discurso fotojjornalístico sobre “o que vem a ser a pobreza no sertão”. O fato do discurso ser acontecimento, ancorado a práticas sociais, permite a mobilização de outros gestos de leitura neste espaço de interpretação que, por sua vez, acarreta em deslocamentos e reformulações deste mesmo espaço. Compreender a fotografia e o fotojornalismo por um viés discursivo implica na desestabilização de sentidos – de imagens – que cristalizam e naturalizam na história e no social um lugar para o sujeito.

 

A estética de algumas representações da pobreza no sertão

Para a análise foram selecionadas quatro fotografias produzidas por diferentes autores, todos fotojornalistas brasileiros de renome internacional. As imagens circulam em diferentes meios, desde publicações impressas a digitais, e foram todas acessadas via internet, sendo que as legendas mencionam onde as fotografias foram publicadas