O estigma da ameaça ao emprego pelos periféricos na periferia: crise e imigração no Brasil


resumo resumo

Patricia Villen



Com a presença dessa “outra” imigração (muito recorrentemente em situação indocumentada) no país, as mesmas “linhas não expressas da especialização racial”, às

quais Florestan Fernandes (2008a) se referia para explicar a posição do negro e de grupos subalternos no mercado de trabalho brasileiro – passam a iluminar o movimento de rebaixamento e exploração da força de trabalho de imigrantes e refugiados provenientes de países periféricos.

Com o fim de se refletir sobre a presença desses imigrantes e refugiados no Brasil, remete-se ao conceito de imigrante utilizado por Sayad (1998), como sinônimo de uma condição social, que chama atenção tanto à sua posição de classe na sociedade de origem, quanto àquela do seu país de origem nas relações internacionais e na divisão internacional do trabalho[11]. Nesse sentido, o imigrante a que se refere o autor é um trabalhador que provém de países “dominados”[12] na hierarquia das relações internacionais.

Para essa parte social, numericamente mais significativa da atualidade do fenômeno no Brasil, a relação entre imigração e trabalho é mediada, de forma inerente, pela urgência no atendimento de necessidades materiais básicas (para si e, muitas vezes, para familiares no país de origem), em muitos casos, determinante da própria sobrevivência. A natureza dessa mediação, está diretamente relacionada com a execução de atividades laborais altamente marcadas por tendências da precarização do trabalho como, por exemplo, no setor têxtil, na construção civil, na indústria de abate de carnes e no serviço doméstico.

Primeiro o trabalho responde ao indispensável de se comer, ter uma moradia, o mínimo para se manter no país, depois, eventualmente, permite, com muitos sacrifícios de jornadas intensas e incessantes de trabalho, a reserva de uma poupança, em quantias pequenas, que geralmente são enviadas por remessas para os familiares no país de origem ou reinvestidas no esforço contínuo para melhorar a estruturação da vida no Brasil. Essa condição de periféricos na periferia agrega, portanto, a dependência absoluta do trabalho com a necessidade imediata e ininterrupta de trabalhar.

 



[11] Sayad lembra que o “imigrante é o duplo do emigrante”. Por esse motivo, é importante considerar a “relação dialética que une as duas dimensões do mesmo fenômeno, a emigração e a imigração; ou, em outros termos, como um mesmo conjunto de condições sociais pode engendrar, grosso modo, num dado momento da história do processo (ou da história de um grupo em particular), uma forma particular de emigração, ou seja, uma classe particular de emigrantes [...], sendo que esses emigrantes resultavam num segundo momento numa classe particular de imigrantes e, em seguida, num forma particular de imigração” (SAYAD, 1998, p.18).

[12] Remete-se aqui ao que Sayad considera importante para entender o fenômeno da imigração, ou seja, a atuação do sistema de colonização no passado e seus efeitos e prolongamentos no presente: “A imigração que é produto da colonização ou deriva diretamente dela. A colonização que a imigração prolonga e faz sobreviver de certa forma” (SAYAD, 1998, p. 71).