Do garrafeiro ao catador de materiais recicláveis: o (re) surgimento de um sujeito do projeto urbano
Rubiamara Pasinatto
Sobre a noção de lugar na óptica discursiva, Grigoletto (2005) afirma que não devemos pensá-la no sentido empírico, mas sim no âmbito do efeito das práticas sociais e discursivas, já que é pela relação do sujeito com a língua que são construídos os lugares discursivos. A autora menciona que o processo discursivo, ou seja, a discursivização, só acontece pela existência de uma determinação social que, como já dissemos, institui determinados lugares, que podem ser ocupados por sujeitos.
Recorremos, neste momento, a Foucault (1997), que na obra Arqueologia do saberusa como exemplo o discurso médico para contextualizar as imposições institucionais e normativas que regulam a emergência deste discurso. Desse modo o lugar social de médico lhe legitima a ocupar certas posições no discurso.
A partir do que ressalta Foucault (1997) constatamos que o lugar social então é uma espécie de ponto de ancoragem para a prática discursiva não aponta, assim, para a relação de qualquer discurso a uma unidade de sujeito homogênea, contínua, representada por um lugar social único. São então “[...] diversos status, nos diversos lugares, nas diversasposições que o sujeito pode ocupar ou receber quando exerce um discurso, nadescontinuidade dos planos de onde fala [...].” (FOUCAULT, 1997, p. 61).
Ainda na perspectiva de Foucault (1997), observamos que os lugares e posições são construídas no interior de uma determinada formação social.
Depreendemos então desta conjuntura exposta que a formação social está no espaço empírico, abrigando diferentes formações ideológicas, que interagem com as relações de poder institucionais, determinando, desta maneira, o lugar social que o sujeito ocupa na sociedade.
Grigoletto (2005) comenta que osujeito do discurso, ao mesmo tempo em que ele é interpelado/assujeitadoideologicamente pela formação social, se inscreve e pode ocupar um dos lugares sociais quelhe foi determinado. É este o espaço do empírico, de uma determinada formação social e ideológica, conforme a autora, que o sujeito é afetado pelas relações de poder e que determina o lugar discursivo, por meio do movimento da forma-sujeito e da própriaformação discursiva com a qual o sujeito se identifica.
Ainda de acordo com Grigoletto (2005) é possível dizer que o lugar discursivo está no entremeio do lugar social, da forma e da posição-sujeito. “Portanto, ele não é sinônimo de posição, já que pode abrigar, no seu interior, diferentes e até contraditórias posições de sujeito.” (GRIGOLETTO, 2005, p.160).