A pátria (s)em chuteiras: reescritas do Brasil na Copa das Confederações


resumo resumo

Júlia Almeida



considerado nacional (e suas vitórias) com a nação, que passa a ter no futebol um símbolo de suas qualidades e conquistas. Nesse discurso surge, ainda, retomando a relação entre enunciado e posição de sujeito em Foucault (2009, p. 61 e 59, respectivamente), “um campo de regularidade para diversas posições de subjetividade, que delimita modalidades enunciativas (ou tipos de atividade discursiva), lugares institucionais de legitimação e um “campo perceptivo” de que o sujeito é função: no caso é a posição de torcedor que passa a expressar o caráter nacional, o que leva Nelson Rodrigues a dizer, em 1962, diante de um placar difícil contra a Espanha, que eram “setenta e cinco milhões de brasileiros [que] precisavam mais do gol que todo o Nordeste de água e pão” (BORGES, 2010). 

Pesquisadores brasileiros como Ronaldo Helal[2] vêm apontando a impropriedade de se afirmar hoje o Brasil nos termos do “país do futebol” ou “pátria de chuteiras”, uma vez que não haveria mais, nem na crônica esportiva recente nem no campo e na performance dos jogadores, as marcas que caracterizaram o futebol brasileiro como dionisíaco (Gilberto Freyre) e que justificaram a afirmação de uma excepcionalidade brasileira no esporte ao longo da segunda metade do século XX. Outros sociólogos (BARTHOLO et al., 2010), contrapondo-se a uma perspectiva homogeneizante dos discursos em torno do futebol nacional, com base em leitura comparada de crônicas das décadas de 50/60 e atuais, tendem a mostrar que a globalização não significa a ausência do tema do futebol-nação nas crônicas – fomentado pela própria estrutura das competições entre países – que reaparece em meio a embates e contextos eventuais que os exigem.

De um campo de investigação não coincidente com o dos sociólogos e antropólogos do esporte, interessados pela construção social de um modo brasileiro de jogar futebol, voltamos nosso interesse para a formação discursiva que se cristalizou em torno do Brasil como “pátria de chuteiras” na medida em que aciona um dispositivo de produção de sentidos não só sobre o futebol e o estilo nacional de jogo, mas sobretudo sobre o modo de  dizer/ver o brasileiro e o Brasil através do futebol. Pelé, representante oficial da Copa de 2014, sintetizou claramente essa perspectiva no contexto dos protestos da Copa das Confederações, quando afirmou: “Vamos esquecer toda essa

Em conferência apresentada em Recife, na XII Reunião Anual da Associação de Pós-Graduação em



[2] Em conferência apresentada em Recife, na XII Reunião Anual da Associação de Pós-Graduação em