Revelando o outro: fotojornalismo e representações da pobreza no sertão


resumo resumo

Thiago Manchini de Campos



inicialmente. A análise será efetuada em dois momentos: primeiro iremos tratar cada fotografia isoladamente, descrevendo seus elementos visuais/estéticos e discursivos, para depois considerar seu funcionamento a partir da filiação à memória, da paráfrase e polissemia.

 

a) Evandro Teixeira “Canudos: 100 anos”, 1997

 

A primeira fotografia[4] é da autoria de Evandro Teixeira e foi publicada originalmente em seu livro “Canudos: 100 anos”, sendo inclusive a capa do mesmo. O personagem é João de Régis, um dos sobreviventes do massacre de Canudos e que, no momento na fotografia, tinha 110 anos. A imagem em questão é constituída por três planos: no primeiro João de Régis surge em perfil; no segundo plano se encontra uma simples cruz de madeira mas que, em sua proporção, impõe-se ao sujeito da foto; por último, ao fundo, a vastidão do céu e das terras desertas do sertão. Tal tomada de quadro cria um efeito de profundidade que constrói sentidos sobre a vida no sertão: a fé como sendo o elemento sustentador e mediador entre a existência e o nada. O espaço entre João de Régis e a cruz cria um “corredor”, uma linha de fuga que conduz o olhar à aparente infinitude do sertão. É interessante notar que, apesar de se encontrar em primeiro plano, a nitidez dos detalhes da face do sujeito retratado pouco nos dizem



[4] As informações foram retiradas dos livros onde as fotografias foram publicadas.