O estigma da ameaça ao emprego pelos periféricos na periferia: crise e imigração no Brasil


resumo resumo

Patricia Villen



Sem dúvida, é possível afirmar que a condição desses imigrantes não deixa de manifestar uma continuidade com o mesmo motor que movia as referidas “grandes levas anônimas” do passado para o Brasil, sem ignorar as particularidades e toda complexidade de suas dinâmicas na atualidade, que envolvem todo o globo e características novas em diferentes aspectos (BAENINGER, 2015) – funcionamento das redes, número de países envolvidos, tempo de permanência, particularidades das experiências imigratórias permitidas pelo desenvolvimento dos meios de transporte e das tecnologias de comunicação, modo de operar das políticas imigratórias etc.

Para identificar as características dessa força de trabalho em suas linhas gerais, antes de tudo, é necessário se perguntar em que medida a precariedade pode ser considerada seu diferencial?

Embora haja uma escassez de estudos mais sistemáticos e de bases estatísticas para um melhor entendimento do modo como esses imigrantes são atingidos pelos fatores de precarização, num país com uma reserva abundante de força de trabalho, como o Brasil, é preciso ter cautela ao afirmar que seu traço distintivo, em relação aos nacionais, seja o preenchimento de empregos mais precários.

Na realidade, sua posição ocupada no mercado de trabalho brasileiro é muito semelhante àquela da maioria da população nacional, pois com ela divide os gerais fatores de precarização do trabalho de uma periferia do capitalismo (e.g. ANTUNES, 2014; BRAGA, 2012; KREIN, 2013). Essa condição de classe, em conjunto com sua proveniência periférica, também faz essa categoria partilhar a atuação de um racismo secular que, no que se refere ao funcionamento do mercado de trabalho, como argumentado por Fernandes (2008a), soube se renovar, mesmo sem suas bases legais escravistas[13].

Talvez a particularidade da força de trabalho dos periféricos na periferia tenda a se revelar na combinação de aspectos ligados à sua própria condição de imigrante (linguística, cultural, de direitos, em alguns casos da falta de apoio de familiares ou redes sociais no Brasil) com todo o processo de imigração imposto, desde a partida, a quem precisa emigrar com meios escassos ou se endividando.

Dessa vulnerabilidade deriva uma maior exposição e disponibilidade (por necessidade) à exploração, no trabalho e em todos os âmbitos da vida social em que sua presença possa se tornar lucrativa – veja-se, por exemplo, os empresários das fronteiras,



[13] O estudo de Baeninger et. al (2011), realizado a partir de uma pesquisa de campo com bolivianos na cidade de São Paulo, mostra como o racismo também se manifesta pela sua negação. Â