A pátria (s)em chuteiras: reescritas do Brasil na Copa das Confederações
Júlia Almeida
confusão que está acontecendo no Brasil e vamos pensar que a seleção brasileira é o nosso país [...]”[3].
A seleçãodeveria ser o objeto privilegiado do país, o que as manifestações contrariam, na medida em que o país, não se ocupando com as questões da seleção, passa a se ocupar com outros problemas do próprio país. Como reverberação de uma formação discursiva que construiu e naturalizou discursos sobre o Brasil e os brasileiros, “a seleção é o país” é um efeito de sentidoem relação parafrásticacom outros enunciados de uma mesma matriz de sentidos, “na medida em que se concebe esta sequência como pertencente necessariamente a esta ou àquela formação discursiva” (PÊCHEUX; FUCHS, 1990, p.169). São essas e outras paráfrases dessa formaçãoque encontramos como mote de campanhas promocionais atuais do governo federal e ativada na voz de seus representantes.
Justamente quando boa parte da publicidade televisiva das grandes marcas durante a Copa das Confederações convoca a euforia coletiva em torno do futebol, conclamando os brasileiros à ocupação das ruas com a alegria de torcer pela seleção é, neste momento de máxima exploração de uma formação discursiva, que muitos brasileiros vêm subverter o ethos que pesquisadores do esporte gostam de reafirmar como uma verdade inquestionável sobre os brasileiros: basta um gol para que esqueçam todas as contradições do país. Dessa vez, deu-se justamente o contrário e mais surpreendente: o futebol perdeu nesse período esse reiterado efeito de máxima experiência de coesão social (através do lúdico) e o período da Copa das Confederações tornou-se o tempo-espaço de experimentação de uma subjetivação social em busca de outros modos de fazer/dizer o país: à nação coesa em torno da seleção contrapõe-se a “dissemiNação” do país em manifestações e demandas por mudança.
Há, nesse contexto, uma clara rejeição dos slogansdos cartazes ao “Brasil-seleção”, entendido como país que prioriza o futebol (e outras esferas do lúdico, o carnaval, por exemplo)em detrimento do “Brasil-nação”, com qualidade de serviços públicos,como saúde, educação, segurança e saneamento para sua população. Nos termos que José Miguel Wisnik(2008) analisa o Brasil, via psicanálise, diríamos que o país teve um rasgo de princípio de realidade em detrimentodo princípio do prazer. Um conjunto de slogans doscartazes e banners na internet permite ver essa passagemde