Linguagem e educação social: a relação sujeito, indivíduo e pessoa


resumo resumo

Eni Puccinelli Orlandi



Formação e Cidadania: acessibilidade social, mobilidade política e histórica


A formação – e não a capacitação - é que pode dar condições para este espaço politicamente significado da diversidade que se diz, e do sujeito que se re-significa, pelo acesso a outras formulações, a outros processos de produção de sentidos a outras redes de filiação à memória, a outros modos de individuação e identificação.

Como sabemos, a memória discursiva funciona pelo esquecimento: esquecemos a primeira vez que ouvimos a palavra deficiência e, desse modo, cria-se em nós a ilusão de que os sentidos nascem em nós, e que nós é que somos a origem dos sentidos, quando na realidade retomamos sentidos pré-existentes. Estes, no entanto, embora pareçam, não são imóveis, nem fixos, a não ser pelo imaginário social que os estabiliza, e as instituições que os cristalizam.

Penso, assim, que, em nossas análises, devemos objetivar a redefinição permanente da estrutura na relação dinâmica com o acontecimento, considerando os processos de identificação dos sujeitos, e a identidade movimentando-se na história. Para isto, temos de atentar para a forma do sujeito histórica (capitalista), seus modos de individuação e a constituição da posição-sujeito pessoa (com ou sem deficiência) no modo como a deficiência vai reverberar sentidos no imaginário social. A começar pela maneira como a escola – enquanto instituição, ou seja, parte do dispositivo de articulação simbólico-político do Estado – é parte desse modo de produção de sentidos, na educação social.

Com efeito, podem-se constituir outras posições que vão materializar novos (ou outros) lugares na formação social (ORLANDI, 2012); ou para que “territórios de existência possam ganhar corpo” (ROLNIK, 1997). E com eles outros sentidos, outras posições sujeito com suas formas de (se) significar.

 

Sujeitos bem formados: sujeitos que resistem

Podemos afirmar que, nas formas atuais de assujeitamento do capitalismo, há um resto, nas relações dissimétricas, que pode produzir a resistência, não de sujeitos pensados como heróis, mas na divergência desarrazoada de sujeitos que teimam em (r)existir. São sujeitos bem formados[5].



[5] Não confundir bem formados com eruditos. A formação tem a ver com as condições reais de existência dos sujeitos e suas necessidades de saber para transformar essas condições.