Revelando o outro: fotojornalismo e representações da pobreza no sertão


resumo resumo

Thiago Manchini de Campos



dele. Ao nos distanciamos do plano primário a cruz e o cenário ganham proporção. Nesse jogo de foco e perspectiva centraliza-se o sujeito e, em um mesmo movimento, efetiva-se o seu esvaziamento: João de Régis é definido pelos elementos visuais que o cercam: a cruz e o deserto. Na dispersão da composição desta imagem duas regularidades vão se delineando: vazio e religião.

 

b) Ricardo Funari, reportagem “Seca e Fé no Sertão”

 

A segunda fotografia, da autoria de Ricardo Funari, retrata uma família do sertão de Pernambuco buscando migrar para São Paulo. Assim como na imagem de “Canudos: 100 anos”, esta fotografia também é caracterizada por uma perspectiva profunda, produzida através do mesmo mecanismo. A estrada, paralela ao plano da imagem, funciona como uma linha de fuga que guia e direciona o olhar para o fundo, criando assim um forte contraste entre os planos que compõem a fotografia. É interessante notar que essa linha de fuga é reforçada pelo espaço vazio existente entre o pai e o restante da família, já que é exatamente ai que o olhar se prende e é levado à profundidade da imagem. Ao lado um caminhão surge como elemento levemente desfocado. Este efeito é alcançado ao controlar a velocidade do obturador da câmera (quando maior sua velocidade, menor o tempo de captura). Na imagem em questão o obturador está configurado para registrar a família que, ao contrário dos veículos, encontra-se parada.