Revista Rua


De "garganta do diabo" para "ponte sobre o vale do menino Deus": reflexões acerca das práticas sociais e dos modos de designar o espaço público
From "Devil's Throat" to the "Bridge over The God Boy Valley": Reflections about the social practices and the ways to designate the public space

Verli Petri

para um lugar de tão bela paisagem e com tamanha importância social e logística (entrada e saída da cidade). Se para o legislativo dizer “Garganta do Diabo” por mais de 50 anos é uma questão de impropriedade denominativa, muitos cidadãos passam a se perguntar: “-E qual seria então a denominação própria?
A proposta de alteração ganhou força e notoriedade, sendo encaminhada à Câmara e ao Senado Federal que, em 2002, aprovandoa alteração do nome de “Garganta do Diabo” para “Ponte sobre o Vale do Menino Deus”, faz referência ao nome do bairro mais próximo do referido viaduto, denominado Campestre do Menino Deus. A proposta de alteração do nome vai de um extremo ao outro: do “diabo” ao “menino deus”, como se esta troca pudesse promover a mudança de estatuto do espaço público em questão, do mal para o bem, do não-urbano para o urbano.
A questão que se coloca, neste momento, é: alterar o nome é alterar a designação? Alterar o nome é alterar os sentidos? Entendemos que, assim como “uma referência”, uma imagem também “não tem apenas um nome para designá-la, podendo, então, um objeto [uma imagem ou um espaço público]ser referido e designado por diferentes nomes, onde são reproduzidos ou movimentados os sentidos postos como referenciais” (PETRI, 2004: 220). Assim, diferenciamos nome e designação, acreditando que o nome atende a uma necessidade oficial e institucional, mas o designar implica o funcionamento do “interdiscurso, enquanto memória, e não [apenas] um referente específico que relaciona a palavra à coisa” (GUIMARÃES, s.d.). Quanto à produção dos sentidos, entendemos que implica ainda a inscrição dos sujeitos em determinada formação discursiva e as singulares relações que cada sujeito estabelece com as formações ideológicas às quais está “livremente” submetido.
É possível, por exemplo, observar a incidência da ideologia cristã funcionando no processo de re-nomeação, mas não é só isso, pois “menino deus” nos remete ao nome de um bairro próximo ao viaduto, o que nos remete também ao movimento sócio-político de resgate do ponto turístico, numa tentativa de integrá-lo ao espaço público urbano, organizado, estável, controlável. Estamos pensando “o urbano” como discurso e ele