Revista Rua


A enunciação da cidade: práticas discursivas sobre a São Paulo do início do século XX
The city enunciation: discourse practices about São Paulo at the beginning of XX century

André Luiz Joanilho, Mariângela Peccioli Galli Joanilho

edifícios onde houvesse maior aproveitamento do solo. Em São Paulo, construía-se ‘em cima’ em vez de se construir ‘ao lado’ (TOLEDO DE LIMA, 1983: 105).
 
 
A despeito do saudosismo do autor, a capital se fazia sobre terra arrasada, gerando anedotas como a registrada por Jorge Americano:
 
         “- Esta Prefeitura não prevê o futuro.
         - Como não? Veja só a arborização das ruas.
         - Umas árvores que derrubam fôlhas sêcas durante grande parte do ano.
         - E a magnólia amarelinha, da Rua Aurora?
         - Aquilo tem uma semente viscosa, em que se escorrega. É uma fábrica de quebrar costelas.
         - O que é que você queria?
         - Eu queria que previssem o futuro. Faria uma lei que obrigasse as construções do centro a 20 andares. Derrubava todos os prédios entre a Rua 15 de Novembro e a Rua do Comércio (Álvares Penteado) e fazia uma rua larga, de cem metros de largura. Derrubava tudo entre a Rua Direita e a Benjamin Constant, e ficava com outra rua larga. Derrubava os quarteirões entre a Rua de São Bento e a Líbero Badaró, e ficava uma terceira rua larga. Tomava a Rua de São João, com oito metros de largura, e desapropriava tudo, fazendo uma avenida de 60 metros de largura.
         - (Não adianta conversar com êle. Quando se entusiasma pelo progresso, enlouquece)” (AMERICANO: 103).
 
 
            É claro que o anedótico dessa passagem está no fato de simplesmente o interlocutor desejar derrubar o triângulo central inteirinho, da Praça da Sé ao Vale do Anhangabaú.
Os cronistas não deixam de relatar o orgulho relacionado com o rápido progresso da cidade, prova de que se civilizava a cidade e, conseqüentemente, o país. No final do século XIX, destaca-se sempre o aspecto moderno da cidade. O comércio, as indústrias e as incipientes instituições culturais eram motivo de orgulho da capital e sempre nota de destaque para os viajantes. Para muitos ela crescia, ganhava vida, enfim, virava metrópole. Assim, aos olhos de muitos que chegavam à capital “o aspecto da cidade não é feio, sente-se nella a vida e a animação das grandes cidades européas” (MOREIRA PINTO, 1979: 24). Sonhos de progresso e europeização da cidade: