Revista Rua


Apresentação Rua 17 Volume 1

A maioria dos artigos que compõem esta edição resulta de invenções e inspirações que povoaram o evento O que pode um cotidiano que divaga ao fabular? Com-fabulação... Ex-pressão... (2010), pensado numa conexão e proliferação a partir do filme Narradores de Javé (2003, direção de Eliane Caffé). Assim, estendemos essa proposta do evento aos autores que aqui expressam (des)conexões de suas ideias e pensamentos junto a dois projetos de pesquisa que atravessaram o evento já descrito: “Escritas, imagens e ciências em ritmos de fabul-ação: o que pode a divulg-ação científica?” (MCT/CNPq - No. 478004/2009-5) e “Olhares cotidianos da certificação turismo carbono neutro: logos e grafias de uma transformação na APA Itacaré-Serra Grande/BA” (Fapesb – No. nº 015/2009).

A promoção do evento, acontecido entre os dias 02 e 04 de setembro de 2010 nas dependências da Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs), foi do Grupo de Pesquisa multiTÃO: prolifer-artes sub-vertendo ciências e educações (CNPq), sendo organizado pelo Departamento de Educação (Dedu) da Uefs e pelo Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo do Núcleo de Desenvolvimento da Criatividade (Labjor-Nudecri) e Faculdade de Educação (FE), ambos da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), contando com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (Fapesb); Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq); Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT) e Programa de Pós Graduação Mestrado em Divulgação Científica e Cultural (MDCC-Labjor-IEL-Unicamp).

Elenise Cristina Pires de Andrade e Alda Romaguera, em Sonhar-te e(m) vidas. (Des)nar-ar..., lançam-se às cores, aos fragmentos, ao sentido do non-sense, à fuga ao campo da representação na vontade de conhecimentos e pensamentos pelos ARes das ideias junto à filosofia de Deleuze para provocAR e(m) educação-pensamento numa (des)narrativa a fabular com/pelas escritas e imagens. Em Imagi-nando multiplicidades entre-tempos/lugares: um olhar sobre o filme Narradores de Javé, Giovana Scarelli explora o filme a partir de uma ideia de pensá-lo em camadas, objetivando potencializar reflexões sobre cinema, educação visual, filosofia entre outras áreas do conhecimento. José de Barros Pinto Filho, Eva Arbat Bau e Tiago Tombini da Silveira escrevem Dos olhos aos olhares, de Javé a Taboquinhas, uma mesma Bahia a fabular imagens na busca por escrever livros e perpetuar memórias, onde sugerem um fabular, entre o projeto “Olhares cotidianos...” e o filme, meditando sobre as imagens poéticas e fotográficas do projeto e filme, na busca de encruzilhadas e esquinas imagéticas. Em Los proyectos comunitarios como entornos de aprendizaje para la sostenibilidad en la formación inicial de maestros, Lidia Ochoa Cañigueral e Anna Maria Geli de Ciurana, explicam o papel que desempenha o projeto de educação científica “Girona, ciudad semilla de ciencia”, enfatizando a formação de professores e argumentando, com o filme Narradores de Javé, pela importância de se abraçar uma diversidade de pontos de vista para criar e potencializar a aprendizagem. Já Glória Freitas, narra um conjunto intenso de histórias de vida das aprendizes-dramistas e das mestras de drama em a Arte de viver de narradoras de outro Javé chamado Guriú e explora as intensas transformações metodológicas da pesquisa, da pesquisadora, do viver e do narrar. A ironia exacerbada vira nada. Nada? Incômodos com Narradores de Javé, de Wenceslao Machado de Oliveira Jr., é construído como repetição desdobrada, apontando as fragilidades da ironia exacerbada de Biá. Ironia entrevista como tom enunciador e desmodelizador daquilo que se faz, daquilo que se diz, daquilo que é. Ironia como tom que desconserta, mas também mantém tudo como está: o filme (só) como entretenimento. Susana Oliveira Dias, em Vagabmundear pensamentos – ciência e loucura e arte experimenta: esfregar as narrativas, assim como esfregamos os olhos poeirentos de partículas coloridas que se agitam entre Javé, escrita, ciência, arte e loucura; pensar na Escrita-Filme como um narra-dor, uma pálpebra dobrada que expõe o olho à invasão das águas im-puras que vêm de fora; desentender que a loucura não é mais um corpo familiar ou estranho, mar ou sertão, que habita o pensamento, mas poeira vagabunda. A fábula da origem escrito por Renato Salgado de Melo Oliveira, traz uma aposta, entre encontros e desencontros com o filme, de pensar a fábula como um desassossego da própria origem: “era uma vez”, tempo sem começo de onde se dispersa nossa pretensão à continuidade. Tempo que faz da origem um lugar sem raízes, e um movimento tanto para o passado quanto para o futuro. Vivian Marina Redi Pontin, em In-(cor)porar palavras traz ciência, verdade, narradores, Javés, Mona Lisas, em um movimento de captura pela verdade que pressupõe a narrativa científica, fazendo funcionar maquinarias de desvelamentos e de imposições, no desejo de deixar-se in-(cor)porar para inspirar os ares e as cores, abrindo os poros dos pensamentos que inundam o corpo e a filosofia. Em Você gosta de livro? Você é um intelectuário? Você é uma traça? Então aqui não tem nada da sua conta, Luisa Dias Brito propõe dialogar por entre pensamentos acadêmicos, imagens e produções literárias no questionamento: quais as possibilidades de problematizações dos padrões hegemônicos da relação sociedade-natureza que são abertas com as produções culturais? Numa decomposição com fotografias e palavras, Na sola dos olhos, Sheyla Cristina Smanioto Macedo perverte e dispersa o Lugar: uma ação urbana criada pelo artista Tom Lisboa – que funciona como uma espécie de jogo em que o objetivo é "desenhar", caminhando e fotografando as cidades, a letra L (de Lugar) – proposta aos participantes do evento O que pode um cotidiano que divaga ao fabular? Com-fabulação... Ex-pressão... e desenvolvida pelas ruas centrais de Feira de Santana.

E, por último, Ana Godoy nos presenteia com a resenha do livro recém-lançado, Estratégias expansivas: publicações de artistas e seus espaços moventes, de Michel Zózimo Rocha. Um livro voltado não apenas à problematização da produção artística contemporânea, mas um livro que tem como proposta o pensar as noções de publicação, edição e circulação e sua importância em relação às práticas de escrita.

 

 

Susana Dias e Elenise Andrade


Número 17 - Junho 2011
ISSN 1413-2109/e-ISSN 2179-9911

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Editada pelo Laboratório de Estudos Urbanos reúne artigos, produções artísticas e resenhas de obras que tratem de fenômenos próprios da cidade nos múltiplos espaços do político e do urbano. - Leia mais

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