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VI - Encontro Internacional Saber Urbano e Linguagem - As Políticas do "consenso"

Encontro Internacional Saber Urbano e Linguagem discute divisão de espaço

 17/11/2008

 

Os condomínios e as favelas de Campinas e as habitações na Tunísia foram tema na primeira mesa-redonda do 6º Encontro Internacional Saber Urbano e Linguagem, segunda-feira (3), no Salão Vermelho da Prefeitura de Campinas. A mesa “As políticas públicas e as (re)divisões do espaço urbano” foi realizada pelo programa “Pensando a Cidade”, no qual se discutem questões de políticas públicas e redivisões do espaço urbano com a participação da população em geral.

A professora Eni Puccinelli Orlandi, coordenadora do Laboratório de Estudos Urbanos da Unicamp, falou sobre o surgimento dos condomínios fechados, que, na sua opinião, acabam se configurando como uma violência simbólica. Desde o início, se considerava que as pessoas que não fazem parte do grupo são estranhas, mas elas podem ser sócios ou inimigos. “Não se pode ter laços sociais na medida em que se faz muros que separam as pessoas em grupo”, acrescentou. O condomínio, na sua visão, é um mito de segurança, a partir do momento que torna mais hostis os que ficam do lado de fora. Ela enfatiza que coma construção de condomínios, o número de roubos caiu, mas o número de latrocínios aumentou. “A violência é maior, separando e afrouxando laços sociais. É uma falsa medida de segurança”.

Eni falou também sobre outro projeto no qual aborda o espaço urbano a partir da favela. “A favela também é um espaço fechado, mas com outra maneira de organização. Tem uma letra em que o rapper diz: ‘Eu vivo na favela; eu vivo em vielas’”. Pensando na questão de sentir-se em casa, Eni acrescentou que trabalha com a relação entre casa e rua, estudando os diferentes sentidos que podem ter rua e casa para os diferentes sujeitos que vivem na sociedade. “O espaço é o lugar em que se habita, onde tem sujeito vivendo e se significando e sendo significado neste espaço”, acrescentou.

A divisão de espaço não é uma preocupação só de pesquisadores brasileiros. Representante do Centro de Estudos e Pesquisas Econômicas (Ceres) da Tunísia na mesa-redonda, Saïd Mosbah falou sobre a manifestação de conflitos quando famílias abrigadas na Medina e Tunes foram realocadas para outro bairro distante da Medina, dentro de um programa habitacional do governo.

Nas antigas habitações, segundo Mosbah, pelo menos quatro famílias, sem vínculo, viviam em habitações com dois ou três quartos, porém, ao ser realocadas para casas com 42 metros quadrados ou apartamentos de 25 metros quadrados, tiveram de conviver com a não-aceitação de moradores antigos do bairro para o qual foram levadas. “Rapidamente, o bairro se tornou protótipo da delinqüência juvenil e da criminalidade”. Estudo feito pelo Ceres, segundo ele, revelou a insatisfação das pessoas por meio de entrevistas e da repercussão na imprensa. “Lá vivíamos mais unidos. Éramos como uma família. Aqui, nos olham com preconceito.” O encontro acontece até quinta-feira (6), no auditório da AFPU, na Unicamp, com mesas-redondas e conferências. Confira a programação do evento.