Revista Rua


Subjetividade e discurso: a representação da língua (indígena e portuguesa) para professores Terena
Subjectivity and discourse: the representation of language (Indian and Portuguese) to Terena teacher

Alessandra Manoel Porto e Vânia Maria Lescano Guerra

A menção à L2 é, no entanto, feita diretamente quando SP1 explicita a estratégia utilizada pelos indígenas no passado quando ela foi sinônimo de minimização dos casos de “escravidão”, vividos pelos patrícios, o que vem marcar diretamente a conduta dos mais velhos em relação à nova geração: então nessa preocupação os pais também já... começaram em casa falar um pouco da língua portuguesa. Há uma visão de mobilidade na concepção dos pais, como geração mais velha, trazido pelo discurso de SP1, ou seja, se não propiciassem a aprendizagem com a L2, teriam as mesmas dificuldades encontradas pelos pais. A esse respeito, Bauman (2005, p. 57) assevera que “é preciso acreditar que é adequado confiar em escolhas feitas socialmente e que o futuro parece certo”. Na assertiva apresentada, fica clara a política linguística articulada pelos Terena de que a aprendizagem da língua do colonizador/branco seria indispensável para a sobrevivência do grupo, como ethos do povo Terena.
Mesmo coadunando-se com a atitude dos antepassados, SP1 não esconde que, embora o evento representasse refutação aos olhos de quem estivesse externo a ele, foi uma conduta sábia dos mais velhos. Em: na época foi uma perda para nós... mas foi uma estratégia, a expressão “perda para nós” pode ser compreendida como um refutação da L1, consideradas as consequências sobre o “hoje” – aqui-agora: nem todos da etnia podem marcar a sua identidade dentro dos princípios eleitos pelos próprios índios, que é serem falantes da L1.
A sobrevivência só é abordada pelo sujeito ao final da sequência discursiva – digamos assim... de sobrevivência do povo Terena –, no entanto podemos compreender que, a todo momento em que SP1 usou o vocábulo “defesa”, havia uma formação discursiva (FD), ou seja, mecanismos de controle para que houvesse sobrevivência. Mais uma vez, recorremos ao postulado de Foucault (1987, p. 136), que define uma FD como “um conjunto de regras anônimas, históricas, sempre determinadas no tempo e no espaço, que definiram, em uma dada época, e para determinada área, social, econômica, geográfica ou linguística, as condições de exercício da função enunciativa”. Nessa perspectiva, é pertinente incluirmos, nessa discussão, os fundamentos do discurso, na conjuntura do interdiscurso, materializado no intradiscurso por SP1, apontando a L2 como referente, no excerto apresentado, recategorizada por meio de nomes relativos aos processos cognitivos: defesa, comunicar com você, nessa preocupação, questão profissional, questão de integração, questão de relacionamento e isso, que têm como referente a “língua portuguesa”. Como não podem ser analisados fora do discurso (porque remetem a suposições e hipóteses discutidas dentro do discurso), fora dele não constituem uma associação semântica, nem tampouco uma repetição.