Revista Rua


Guerra Fria, Sangue Frio: As Conexões entre o Cinema de Terror e a Paz Armada
Cold War, Cold Blood: The Connections between Horror Movies and the Armed Peace

Marcelo Eduardo Marchi

estão celebrando. Ela se dirige ao astronauta e, enfática, diz: “Você vai morrer lá no alto”. Em seguida, começa a urinar no tapete, até que sua mãe intervém.
Os americanos haviam colocado os primeiros homens na Lua há pouco tempo (20 de julho de 1969), tomando a dianteira na disputa pelo espaço sideral travada com os soviéticos, que, por sua vez, eram responsáveis pelo primeiro satélite artificial a entrar em órbita, pelo primeiro ser vivo (a cadela Laika) e pelo primeiro homem (Iuri Gagarin) no espaço. Ou seja, a corrida espacial era um dos aspectos militares mais relevantes no âmbito da Guerra Fria. Como não podia deixar de ser, os EUA transformaram seus astronautas em figuras tão populares quanto estrelas de Hollywood ou astros do rock, só que, ao contrário destes, os cowboys espaciais eram militares, indiscutíveis representantes do sistema vigente e um alvo inegável para qualquer tipo de ação contestatória.
Fica claro no filme o embate entre Ocidente e Oriente, entre uma cultura dita avançada e outra antiga e supostamente primitiva, o que não deixa de ser um resumo histórico das crises internacionais protagonizadas pelos EUA, como a Guerra do Vietnã e a Crise do Petróleo, que tomou o mundo no ano do lançamento de O Exorcista.
O início do longa-metragem desenrola-se no Iraque, que vem a ser um dos países membros da OPEP. É lá que o padre Merrin (Max Von Sydow), conduzindo uma escavação arqueológica, depara-se com estranhos sinais que parecem prenunciar a ascensão de uma presença arcana. Tais sinais culminam com a descoberta da estátua de uma antiga divindade profana conhecida como Pazuzu.
Esta seqüência inicial dá a entender que a escavação é o acontecimento responsável pelo despertar e pela conseqüente liberação do demônio que, mais tarde, irá possuir Regan. A “curiosidade” ocidental, de uma cultura relativamente nova pelos mistérios e segredos de uma cultura antiqüíssima, somada a uma postura que ainda carrega traços da exploração colonial, encontra pela frente uma força que é incapaz de compreender em sua totalidade. Bem como no conflito do Vietnã, quando talvez o erro fatal do exército americano tenha consistido justamente de seu menosprezo pelos “primitivos” combatentes vietnamitas, com suas fardas que mais se assemelhavam a pijamas e seus túneis subterrâneos. O choque de gerações tão presente em O Exorcista, na realidade, tem início com um choque de culturas.
O primeiro contato de Regan com a força estranha que irá possuí-la dá-se através das brincadeiras da garota com uma tábua de ouija, que consiste em um tabuleiro com letras