Apresentação

A Revista Rua, em seu número 24, tem muito a comemorar. Completam-se 10 anos do lançamento eletrônico da Revista que passou, com sua edição de junho de 2008, a ser semestral e a aceitar originais em espanhol, como uma importante política linguística que reflita o lugar do conhecimento na América Latina. Essa mudança para o espaço eletrônico garantiu também a possibilidade de a revista circular gratuitamente, além de um aumento significativo de contribuições advindas de áreas bem diversas. Aos poucos, fomos também abrindo a submissão de originais a outras línguas, sendo possível, no presente momento, submissões em português, espanhol, francês, italiano e inglês. Ao comemorar seus 20 anos de existência, em 2014, Rua lançou um número especial com um design completamente renovado, em novembro daquele ano, dentro da programação do evento que tematizou seus 20 anos de publicação. Finalmente, em maio passado, adotamos o sistema Ahead of Print da Revista Rua que implica na publicação antecipada e imediata de artigos aprovados após o processo de avaliação, disponibilizando-os previamente garantindo maior visibilidade e rapidez às publicações dos autores da Revista Rua. Os artigos publicados nessa modalidade são disponíveis, primeiramente, na página do Portal de Periódicos da Unicamp, sendo que continuaremos a realizar o lançamento da edição completa em nossa página principal como a que estamos publicando nesse momento! São gestos que, a nosso ver, promovem vitalidade e continuidade a este projeto editorial que consideramos política e eticamente fundamental para uma prática científica consequente com sua responsabilidade social.

Neste 24º. número da Revista, o leitor encontrará 15 publicações em sua Seção Estudos. Começamos com Lúcia Santaella e seu artigo O exoimaginário urbano, no qual a autora, a partir de sua posição de que as imagens, desde a fotografia, vieram gradativamente transformando o imaginário urbano em um exoimaginário, entendido como um imaginário fora da mente, aponta que o desenvolvimento dos aparatos de coleta e tratamento de imensos volumes de dados (big data) sobre as cidades provoca um novo exoimaginário que começa a se fazer sentir: o exoimaginário das entranhas do urbano. Ainda no campo do visual, temos o artigo Perspectivas da análise do (in)visível: a arquitetura discursiva do não verbal, de Tania Clemente de Souza, em que a autora coloca em discussão três conceitos – punctum, intericonicidade e policromia – sublinhando o alcance de cada um deles na análise da textualidade do não verbal, por meio da análise discursiva de quatro fotos veiculadas na mídia on line sobre a cobertura do embate da polícia com índios em abril de 2017. Também no campo do não-verbal, Sobre as performances Oblação, de Bia Figueiredo, e A outra coleção particular de Stéfano Belo, de Stéfano Belo, de Daniel Verginelli Galantin, as performances referidas no título do artigo são analisadas de modo a propor um diálogo com o conceito de corpo sem órgãos e a reflexão sobre o julgamento trabalhados por Deleuze e Guattari, na relação com Foucault e Kafka. De seu lado, observando a relação entre literatura e cidade, o artigo Imaginarios de ciudad en las novelas colombianas Sin remedio y Opio en las nubes, de Volker Karl Lothar Jaeckel e Ayda Elizabeth Blanco Estupiñán, propõe uma leitura do modo como a cidade é representada em dois romances colombianos. Nesse mesmo campo, João Barreto da Fonseca, com seu Alice, a personagem clássica que foi morar na rua, mostra que a personagem, ao se ver perdida num labirinto urbano, compõe novas vivências em que o espaço da rua é fundamental. Fechando esse bloco em que o discurso estético está em foco, encontramos Espaços de solidão, estados de liminaridade: cidade e as ressonâncias da modernidade em A Cidade Onde Envelheço e O Homem das Multidões, de Wendell Marcel Alves da Costa, em que o autor busca analisar o cinema como reconhecimento dos mundos sociais que coexistem na representação fílmica das relações afetivas na cidade. Percorrendo outros lugares de significação da/na cidade, temos o artigo Um bairro é um bairro só?, de André Silva Barbosa, em que o autor toma o bairro como uma cartografia de sentidos configurada por múltiplos e heterogêneos gestos. Olhando para o espaço público, o artigo Cidade, Afeto e Ocupações: ou a transfiguração do espaço público no Brasil contemporâneo, de Raquel Paiva e Marcello Gabbay, faz ver os processos de produção de vínculo nas cidades brasileiras, entendendo a cultura como modus operandi da vida comunitária nas cidades do século XXI. Observando o cultural e o coletivo, Sylvia Adriana Dobry, Caio Boucinhas e Denise Falcão Pessoa, e seu artigo Participação, Arte e Vivências num Território Cultural, compartilham uma narrativa reflexiva sobre uma experiência entre docentes de uma escola na Aldeia de Carapicuíba e estudantes de pós-graduação da FAU- USP em 1997. Dentro de gestos em que o discurso especializado se encontra/confronta/defronta com o espaço urbano, temos Intervenções brancas na cidade multiétnica: Campinas (1888-1956), de Bárbara Campidelli Ghirello e Jane Victal, em que os autores analisam intervenções urbanas na cidade de Campinas entre os anos de 1888 e 1956, compreendendo o caráter branco e dominador do planejamento da cidade que fez nascer um ambiente urbano restrito, inviabilizando possibilidades não-europeias de relação com o território. Também observando as relações de força no/pelo espaço urbano, Dialogismo, sentido e materialidade: a luta pelo espaço público urbano, de Jozieli Camila Cardenal e Anselmo Pereira de Lima, a partir da relação entre a linguagem e as ocupações dos espaços, apresenta nuances da vida urbana no espaço da Praça Presidente Vargas, situada em Pato Branco (PR). Observando outras materialidades que também estão em jogo nos movimentos de significação no/do urbano, Francisco Angelo Brinati e Filipe Mostaro, com seu artigo Maracanã como mídia urbana: as narrativas jornalísticas, apropriações e interações no torcer no “maior do mundo”, analisando especificamente o discurso jornalístico, tomam a narrativa da construção do Maracanã para a Copa de 1950 enquanto espaço de disputas simbólicas e de tentativas de se impor novas representações para este espaço urbano. Ainda no campo do discurso jornalístico, O Tríplex: a imagem como operadora de memória discursiva em charges, de Cristiane Renata da Silva Cavalcanti e Nadia Pereira Gonçalves de Azevedo, tomam como objeto de análise três charges, veiculadas em jornais impresso e online, compreendendo a charge como operadora de memória e ponto de deriva para outros sentidos. Fecham essa seção Estudos dois artigos que se ocupam de olhar para o funcionamento de símbolos no espaço urbano tomados enquanto lugares de significação. Em O “ET de Varginha”: uma compreensão discursiva sobre o “caso”, de Diego Henrique Pereira, busca-se compreender a constituição, formulação e circulação dos enunciados sobre o “ET de Varginha” por meio de análises de monumentos, reportagens, depoimentos, capa de livro e imagens, (re)significando a cidade de Varginha. De seu lado, WC e gênero: discursos em movimento, de Aline Fernandes de Azevedo Bocchi, Dantielli Assumpção Garcia, Fernanda Pereira, Karen Poltronieri, Melissa Frangella Lozano e Lucília Maria Abrahão e Sousa, analisa como sentidos sobre as identidades de gêneros são constituídos e circulam em um conjunto de imagens de portas de banheiros. Compondo a Seção Artes, temos três poesias: O movimento do silêncio e das vozes e O mundo visto da janela de Ariana da Rosa Silva; e Discurso e performance de Atílio Catosso Sales. Na seção Notícias e Resenhas, o leitor pode verificar notícias sobre programas e ações do Laboratório de Estudos Urbanos no período de janeiro a junho de 2018 e a resenha de Nícollas Cayann e Anselmo Peres Alós sobre o livro Os dragões não conhecem o paraíso de Caio Fernando Abreu.

 

Boa Leitura!





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