Discurso e performance



Composição lágrima(s).

Atilio Catosso[1]

 

quando a lágrima escorre,

parece-me que algo está preste a romper o limite

do nonsense,

mas não rompe.

lágrima.



isso que parece romper e não rompe
é da ordem do efeito.  


lágrima como um fragmento de linguagem.

                              o vestígio material da lágrima significa.





Sobre obra.

A composição acima foi formulada a partir de um gesto de recorte e edição fotográfico. As lágrimas que comparecem nestas fotografias foram capturas por Marco Anelli, em 2010, durante a realização de uma performance. Corpos sentados em silêncio, duas cadeiras e uma mesa compunham a cena da “The artist is present”, performance produzida pela artista Marina Abramović, no MoMa.

A partir de uma proposta sensorial, a performance se coloca como sensação, não por meio da palavra, mas do corpo de um sujeito instalado, de um corpo estático e em silêncio. De minha posição, diria que a performance significa em seu movimento (gesto de instalar) nossas “sensações”. Sensação aqui não se refere somente a sentimentos abstratos, mas efeitos de sentidos produzidos a partir de uma prática de existência; isso que se denomina sensação não escapa à significação. Trata-se de um modo de nos significarmos em face de nossas necessidades enquanto seres históricos e simbólicos que somos.

A performance não transcende o corpo, tampouco expressa algo já constituído em outro lugar. Não se trata de representação. A performance não é, em minha leitura, representação. É o próprio lugar de significação, de textualização do sujeito com seu corpo em um espaço. A materialidade da performance liga corpo, espaço e movimento. É um modo de textualização que faz funcionar, na relação corpo/sujeito, essa ligação.

 

[1] Faz estágio de Pós-Doutorado (CAPES/PNPD) no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Linguagem, Univás. E-mail: atiliocs@gmail.com. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-9403-3350