As ruas comerciais, o consumo e a vida social urbana: o universo dos ateliês da Rua Dias Ferreira


resumo resumo

Sílvia Borges Corrêa



Os dicionários dizem: "Rua, do latim ruga, sulco. Espaço entre as casas e as povoações por onde se anda e passeia". (...) A rua era para eles apenas um alinhado de fachadas, por onde se anda nas povoações... Ora, a rua é mais do que isso, a rua é um fator da vida das cidades, a rua tem alma! (...)

Oh! sim, as ruas têm alma! Há ruas honestas, ruas ambíguas, ruas sinistras, ruas nobres, delicadas, trágicas, depravadas, puras, infames, ruas sem história, ruas tão velhas que bastam para contar a evolução de uma cidade inteira, ruas guerreiras, revoltosas, medrosas, spleenéticas, snobs, ruas aristocráticas, ruas amorosas, ruas covardes, que ficam sem pinga de sangue...

(A alma encantadora das ruas, João do Rio)

 

 

Introdução

Este artigo tem como objetivo central a descrição e a análise das práticas de comercialização e de consumo, bem como dos aspectos de sociabilidade presentes na Rua Dias Ferreira, na Zona Sul da cidade do Rio de Janeiro. Essa rua, localizada no Leblon, um dos bairros com os imóveis (residenciais e comerciais) mais caros da cidade e onde residem predominantemente pessoas das classes alta e média alta, se destaca pela presença de ateliês de moda feminina, de restaurantes e bares bastante conhecidos no cenário gastronômico carioca, e de “famosos” e “celebridades” que por ali circulam. A proposta central deste trabalho, resultante de uma pesquisa de cunho etnográfico, é destacar as questões socioculturais que permeiam algumas das práticas comerciais que se desenrolam naquele lugar, em particular aquelas relacionadas aos ateliês de moda que, ao longo dos últimos dez, quinze anos, se instalaram na Dias Ferreira.

 

Algumas reflexões sobre as ruas comerciais e a vida urbana

As ruas das grandes cidades brasileiras são espaços privilegiados para a compreensão das dinâmicas urbanas no que tange ao consumo, ao trabalho, ao lazer e à sociabilidade; enfim, às relações sociais presentes no espaço urbano. Em tempos de construção de novos e de remodelação ou expansão de antigos shopping centers nas cidades brasileiras, é interessante perceber alguns exemplos de “resistência” ou de (re)florescimento do comércio de rua nas nossas cidades. Historicamente, o comércio representa um elemento importante de desenvolvimento da vida social e, atualmente, o comércio ganha novos contornos devido à centralidade do consumo na vida moderna. Uma visão mais apocalíptica, que poderia vaticinar a total decadência ou mesmo a