FICA na rua: arte, cultura e poéticas de apropriação de espaço urbano


resumo resumo

Paulo Cezar Nunes Junior
Janir Coutinho Batista



Agora, eu me encrapulo o máximo possível. Por quê? Quero ser poeta e trabalho para tornar-me vidente: Você não compreenderá nada e eu quase que não saberia explicá-lo. Trata-se de chegar ao desconhecido através do desregramento de todos os sentidos. Os sofrimentos são enormes, mas é preciso ser forte, ter nascido poeta, e eu me reconheci poeta. Não é de modo algum culpa minha. É errado dizer: Eu penso: dever-se-ia dizer: sou pensado. Perdão pelo jogo de palavras. Eu é um outro. (Arthur Rimbaud)

 

Introdução

Esta é a epígrafe que abriu a proposta curatorial da segunda edição do Festival Integrado de Cultura e Arte - FICA (NUNES JUNIOR, BATISTA; 2012).[1] Ela é também um ponto de partida para apresentarmos a discussão que pretendemos tecer ao longo deste artigo: a relação entre apropriação e transformação do espaço público urbano.

Pela ideia rimbaudiana de desregramento dos sentidos, entendemos que é possível resignificar a dinâmica das cidades pela proposição de novos usos e de outros modos de interação com o espaço (LEFEBVRE, 2006). De início, partimos do pressuposto de que a organização das cidades e o planejamento urbano localizam as práticas de tempo livre, instituem sociabilidades e definem meios de utilizar-se do espaço, determinando lugares, horários e condutas a serem seguidas (NUNES JUNIOR, AMARAL; 2009).

Se, por um lado, a existência de um pensamento normatizador organiza a dinâmica das cidades (FOUCAULT, 1982), por outro, é preciso considerar que o modo de apropriação do espaço urbano pode acontecer de maneira plural, escapando às regras e transpondo os usos até então instituídos - tal qual ao realizar-se um espetáculo de dança em uma via de circulação pública que possui usos comumente cristalizados e trajetórias previsíveis.


 



[1] Em 2012, o projeto era conhecido como Festival Itajubense de Cultura e Arte - nomenclatura que vigorou até sua 4ª Edição, ocorrida em setembro de 2014. Devido à expansão para outras cidades sul-mineiras, o projeto passou a denominar-se Festival Integrado de Cultura e Arte.