Arquitetura das igrejas: gestos metafóricos e metonímicos que materializam desejos inconscientes


resumo resumo

Olimpia Maluf-Souza
Fernanda Surubi Fernandes



 

O funcionamento dos santos cria, para os fiéis, o que Almeida (2001) designou como sendo o efeito-santidade, ou seja, a possibilidade de contato com um santo, que teve uma vida terrena e que alcançou o céu, coloca o homem nesse lugar de igualdade, pois, se o santo se apegou a Deus e conseguiu o reino dos céus, nada impede ao homem também consegui-lo. Assim, não é trivial, então, que a maioria das imagens procure os olhos dos fiéis e os capture, pois o que se estabelece aí é uma interlocução possível entre a terra e o céu, entre a vida e a morte. Do mesmo modo, há imagens que mostram o olhar do santo voltado para o céu. Nesses casos, o efeito-santidade está, então, na orientação para onde os olhos dos fieis devem também se voltar.

Vejamos, então, que as imagens dos santos funcionam como demandas dos desejos inconscientes e, por esta razão, instituem-se como objetos faltosos, pois, ao se instalarem como o lugar da possibilidade, da acessibilidade, instituem-se, ao mesmo tempo, como espaço pulsional, incompleto, faltoso.

O olhar do santo para o fiel ou a direção do olhar do fiel pelo santo ancora-se em uma forma de autoridade que impõe, sem ser ditatorial, todo o poder do santo sobre o homem que deseja o seu lugar. Não se trata de um poder que se baseia na imposição dominante das consciências, mas na exemplaridade do santo que assinala a conduta a seguir, a partir da debilidade e da pequenez humana, atraindo e arrastando o homem por sua infinita bondade. Assim, a autoridade na Igreja assenta-se na figura do padre, mas, principalmente, na dos santos, que são escolhidos por Deus. Ou seja, os santos têm uma autoridade que se identifica com a autoridade do próprio Deus, uma autoridade silenciosa que diz, então, quais são as condições para se chegar a Deus. O santo é, então, o intermediário entre o homem e Deus, entre a vida e a morte e, ao mesmo tempo, a representação própria de Deus. Nessa direção, as imagens funcionam como metonímias do sagrado, ou seja, são objetos metonímicos de projeção dos desejos de sacralização do humano.

O santo é, assim, um humano que morre, mas que é eternizado, que é relembrado, que “fala” constantemente com os fiéis. O sentido de morte, posto pela figura do santo, é o de vida eterna, que atende aos desejos humanos.  

A autoridade do santo é, então, necessária e irrenunciável, pois funciona de modo a legitimar e manter o ensinamento que é compartilhado pela Igreja. Nasce, pois, desse funcionamento a noção de pecado que, segundo Castillo (2013), decorre do fato de que