Da relação sujeito, religião e estado: O discurso da liberdade e das letras na cidade
Eliana de Almeida
alia às políticas de poderporvias oficiais o catolicismo, tornando-oa religião hegemônica, pela unidade indivisível do lema colonizadoruma fé, um rei, uma lei. Os estudos de Dias(1996)sobre a política brasileira nos anos de 1922 a 1933 atestam diferentes modos de articulação do Estado com essa hegemonia religiosa.O autor afirma que no Brasil colônia e do Império, sob o regime do padroado, a Igreja Católica existia como departamento do Estado, em que a fé católica comparecia como um dever do cidadão brasileiro.
Com a instauração do Estado moderno de direito no século XVIII, signo de um novo tempo, da modernidade, a Igreja Católica vivencia grandes desafios, pois que esses novos ideais passam asubvertera base social da nacionalidade brasileira,quando se proclama a liberdade de culto.Muitas foram as tentativas da Igreja para se organizar institucionalmente na República e muitos os manifestos havidospara a equivalência de um governo católico à nação católica brasileira, fazendo coincidir Estado/Nação/ Religião Católica.Essa relação entre sujeito, Igreja e Estadose reconfigura com a Carta Constitucional da República e, conforme Dias, (1996), muitos direitos dos católicos são abolidos, visto que o afastamento da Igreja da vida pública e a instauração da laicização passam a reger a modernidade.É nesses termos que a falta de liberdade religiosa à época de São Roqueestá marcadanas proporções do templo presbiterianoindependente de Iepê,à medida que se constitui significante dafalta de igualdade de direitos efalta da liberdade de culto.
As narrativas, a arquitetura do templo e o documentário reencenam no espaço da cidade a querela religiosa entre católicos e protestantes, em que a cidade se funda naimpossibilidade de os protestantes enterrarem seus mortos e construírem escola para seus filhos em São Roque.Uma história de fundação sustentada na/pelacontradição do jogo discursivo entre os ideais revolucionários da modernidade, sob o lema da fraternidade, igualdade e liberdadee o legado reacionário, conservador da Igreja, contrário à mentalidade e à cultura que ameaçavam sua soberania social.
As discursivizações dessa querela religiosa fazem sentido na história de fundação de Iepê e na projeção do templo presbiteriano na cidade, marcando a contradição da relação entresujeito, Estado, fé, para os tempos modernos. Uma contradição sustentada em dizeres que não cessam de se dizerpela falta materializada no excesso, falta da versãoverdadeira, toda,de visibilidadeda história de sua fundação,falta daliberdade religiosa, por fim, afalta de umEstadosob os ideais republicanos, efetivamente moderno e de direitos.