Arquitetura das igrejas: gestos metafóricos e metonímicos que materializam desejos inconscientes


resumo resumo

Olimpia Maluf-Souza
Fernanda Surubi Fernandes



 

[...] uma instituição – como é o caso da Igreja – que é fraca em sua capacidade de pressionar pela força dos juízes e da polícia, costuma lançar mão da força das ameaças divinas, elevando a impressão dos castigos à dignidade social da pessoa e à paz da consciência na intimidade do sujeito, ao qual se faz sentir como “pecado” o que na realidade é o natural “sentimento de culpa” que nasce com cada bebê como mecanismo de defesa [...].

 

Nas igrejas, principalmente as barrocas, essa relação entre o seu e a terra, entre o sagrado e o profano, entre a vida e a morte, são muitas vezes esculpidas em imagens que lembram, na parte inferior da escultura, o flagelo terrestre, e, na parte superior, anjos e santos que esmagam serpentes, que transcendem o limbo e que se colocam imperiosamente, mostrando, além da vitória do bem sobre o mal, a possibilidade de qualquer pecador transcender ao estado imanente de pecado que a terra representa.

Nessa direção, a Catedral de Cáceres-MT constitui-se, para o povo cacerense, como lugar do sagrado em batimento com o profano. Profano, não somente por colocar o homem pecador em relação a Deus e à vida eterna/morte, mas também à maldade e aos pecados desse próprio homem, pois, conforme a lenda da Serpente conhecida como Minhocão[1], a cidade e seus moradores se mantêm graças as oração e a fé do povo, que garante o monstro amarrado aos cabelos de Nossa Senhora. Portanto, por mais que tenha procedência de um outro monumento, a Igreja Catedral significa em sua materialidade, o lugar que guarda a vitória do bem sobre mal, lugar que impede este expandir, de tomar forma, de voltar um dia a atormentar o povo cacerense.

 

 

 

A lenda do Minhocão diz, entre outras versões, de uma enorme serpente que saiu do Rio Paraguai e foi se instalar debaixo da catedral, sendo ali mantida amarrada por três fios de cabelo de Nossa Senhora. A crença é a de que a Serpente, que tem um enorme poder de destruição sobre a cidade, já tentou se soltar por duas vezes, fazendo ruir as obras da igreja, quando ainda em construção. Mas continua presa, agora por um único fio do cabelo de Nossa Senhora, que se fortalece na oração e na fé do povo para manter o “minhocão” adormecido. Ou seja, a vida terrena do povo cacerense “está por um fio” do cabelo de Nossa Senhora.



[1] A lenda do Minhocão diz, entre outras versões, de uma enorme serpente que saiu do Rio Paraguai e foi se instalar debaixo da catedral, sendo ali mantida amarrada por três fios de cabelo de Nossa Senhora. A crença é a de que a Serpente, que tem um enorme poder de destruição sobre a cidade, já tentou se soltar por duas vezes, fazendo ruir as obras da igreja, quando ainda em construção. Mas continua presa, agora por um único fio do cabelo de Nossa Senhora, que se fortalece na oração e na fé do povo para manter o “minhocão” adormecido. Ou seja, a vida terrena do povo cacerense “está por um fio” do cabelo de Nossa Senhora.