“No carnaval a fantasia é minha. O corpo é meu”: memória e rupturas feministas na folia


resumo resumo

Dantielli Assumpção Garcia
Lucília Maria Abrahão e Sousa



texto busca trazer à tona são as marchinhas que foram contempladas pelo edital: “Mulata tipo exportação”, de Edson Pereira, e “Loirinha do BBB”, de Wilton Batata:

  1. Uma das marchinhas, chamada “Mulata tipo exportação”, de Edson Pereira tem um conteúdo extremamente machista e racista, incitando o tráfico de mulheres, com letra que diz: “Japonês caiu no samba e no meio da batucada conheceu uma mulata da boca prateada, do bumbum arrebitado, um corpo de violão. Japonês ficou maluco com a mulata rebolando no salão. Boca loca mais que bocão eu vou levar essa mulata pro Japão. Essa mulata é do tipo exportação.”

 

  1. Outra das marchinhas, chamada “Loirinha do BBB”, de Wilton Batata, tem a letra: “Eu fungo e ela funga, também gosto de beijar. Depois, eu fico de olho nela, no buraco da janela. Só pra ver ela lavar (lavar o quê?) lavar a roupa. Lavar o chão! Alô loirinha capricha no escovão. A loura é bonita, gostosa e cheirosa. Com o seu vestido transparente cor de rosa. O sonho dela era entrar no BBB. Cuidado menina assim você vai me perder.”

 

O texto explicita uma memória estabilizada da posição que a mulher deve ocupar na sociedade. A mulher branca deve ficar em casa, sendo observada pelo homem. Já a mulher negra deve ser exportada para dar prazer ao estrangeiro – vemos aí um discurso do tráfico de mulheres, do tráfico sexual. O manifesto pede ajuda às páginas feministas para tentar romper com essa “cultura da violência” e com a legitimação do Estado da violência contra a mulher. Em tom de denúncia, o texto clama pela constituição de um outro dizer sobre a mulher: “É inadmissível que um órgão público, a partir de um edital e, principalmente, utilizando dinheiro do contribuinte, financie esse tipo de absurdo contra a dignidade das mulheres”.

Nas páginas da Marcha das Vadias, são compartilhados textos que tentam produzir furos, rupturas nos discursos que circulam na sociedade sobre a mulher no carnaval; rompem com rituais estabilizados na sociedade quando se fala sobre a mulher e seu corpo na folia, amparada pelo direito, dotada de um poder outro. Um exemplo é o texto “Mas é carnaval, vadia – ou quando os homens chegam ao fundo do poço, de Leonardo Sakamoto, compartilhado na página da Marcha das Vadias de São Paulo.

Esse texto busca produzir uma reflexão acerca das atitudes masculinas no carnaval quando o assunto é “conquista”. O texto confronta as posições da mulher e do homem na sociedade e, principalmente, na folia carnavalesca. Sakamoto traz como uma memória certas relações entre homens e mulheres. É essa memória que se questiona:

  1. Adoro carnaval de rua. E São Paulo está ótima com os blocos que polvilham a cidade. É claro que, em meio a essa fauna exuberante, há sempre alguns com a velha tática de “conquista'' da idade da pedra lascada, que consiste em “abater a presa e consumi-la ainda viva''.

 

  1.