Arquitetura das igrejas: gestos metafóricos e metonímicos que materializam desejos inconscientes


resumo resumo

Olimpia Maluf-Souza
Fernanda Surubi Fernandes



o-inferno-de-dante

O inferno de Dante. Fonte: http://goo.gl/JDt2fC

 

O espaço arquitetural da igreja funciona, então, como uma espécie de transporte do mundo de pecados para o mundo da glória. Não é por acaso que o espaço da igreja seja denominado de nave[1], ou seja, é a própria igreja com sua arquitetura que faz a passagem, a viagem da terra ao céu, da vida à morte, pois a igreja foi, desde sua acepção, comparada a um navio.

Completando essa viagem transcendental, no altar-mor a figura do santo homenageado pela igreja e o padre representam os timoneiros dessa nave que imaterializa o homem, que o desprende da condição terrena, da condição de pecador para elevá-lo aos céus.

É por essa razão que, no espaço das igrejas, até as ações materiais na forma do dízimo, por exemplo, são consideradas como um tributo que os fiéis pagam à igreja enquanto uma obrigação religiosa e não como uma obrigação social. Ou seja, para que o fiel “viaje” periodicamente aos céus é necessário que ele pague pela sua “passagem” ao padre, enquanto condutor do “navio”[2]. Apesar de esse funcionamento ser capitalista, o que o modifica é o fato de se pagar, com o dízimo, o acesso à espiritualidade, à morte. Dito de outro modo, o dízimo também funciona como uma espécie de objeto metonímico do desejo, pois com ele se “compra” o espaço do sagrado.

 

O dicionário Houaiss traz como primeira acepção para a palavra nave os sentidos de embarcação, nau, mas nas acepções de 2 a 5 os sentidos se voltam para a arquitetura das igrejas: espaço central, geralmente comprido e estreito, que atravessa a igreja do pórtico até o altar; corpo da igreja (acepção 2); cada uma das seções longitudinais de uma igreja, demarcadas por colunas – nave central, naves laterais (acepção 3); cela, estrutura central (acepção 4); prédio destinado a culto religioso; igreja, templo (acepção 5).

Simbolicamente, o dízimo tem o mesmo funcionamento que a mitologia grega criou ao instituir o barqueiro Caronte que transportava sob as águas dos rios Estige e Aqueronte, o homem do mundo dos vivos para o dos mortos. O preço dessa “viagem” era uma moeda colocada sob o cadáver.



[1] O dicionário Houaiss traz como primeira acepção para a palavra nave os sentidos de embarcação, nau, mas nas acepções de 2 a 5 os sentidos se voltam para a arquitetura das igrejas: espaço central, geralmente comprido e estreito, que atravessa a igreja do pórtico até o altar; corpo da igreja (acepção 2); cada uma das seções longitudinais de uma igreja, demarcadas por colunas – nave central, naves laterais (acepção 3); cela, estrutura central (acepção 4); prédio destinado a culto religioso; igreja, templo (acepção 5).

[2] Simbolicamente, o dízimo tem o mesmo funcionamento que a mitologia grega criou ao instituir o barqueiro Caronte que transportava sob as águas dos rios Estige e Aqueronte, o homem do mundo dos vivos para o dos mortos. O preço dessa “viagem” era uma moeda colocada sob o cadáver.