“No carnaval a fantasia é minha. O corpo é meu”: memória e rupturas feministas na folia


resumo resumo

Dantielli Assumpção Garcia
Lucília Maria Abrahão e Sousa



vista como uma “mulher da rua”, “sem valor”. A mulher valorizada é aquela submissa à sociedade e ao homem, é a que será sua “psicóloga”, “enfermeira”, “cozinheira”, “objeto sexual”, isto é, será uma propriedade masculina. A mulher que é livre é vítima da violência sustentada pelos discursos da sociedade. O que Sakamoto apresenta em seu texto é que a sociedade produz e sustenta uma violência contra a mulher e essa violência fará parte da memória a qual os movimentos feministas tentam romper, furar. As Marchas marcam que a violência contra a mulher não pode ser uma “tradição”, não pode continuar a produzir efeitos que subjugam o feminino e legitimam o masculino. Os “corretivos sociais” não podem continuar a ocorrer para manter a mulher presa ao espaço privado, sem a possibilidade de viver uma vida livre. As que escolhem essa vida livre podem ser violentadas, afinal, elas estavam “à disposição:

 

  1. para esses jovens, provavelmente não se enquadram na categoria de “vagabundas'' apenas suas mães e avós, que dormem o sono das santas católicas, enquanto quem é “da vida'' povoa o carnaval. Porque “mulher de bem'' está em casa a essa hora, não aceitaria nunca colocar um vestido acima do joelho e deixar as costas de fora, não bebe, fuma ou tem vícios detestáveis, não ama apenas por uma noite e não ri em público, escancarando os dentes a quem quer que seja. “Mulher de bem'' permanece em casa para servir o “homem de bem'' e estar à sua disposição como empregada, psicóloga, enfermeira, cozinheira ou objeto sexual, a qualquer hora do dia e da noite.

Por quê? Porque, na sua cabeça, elas pertencem a eles. Porque assim sempre foi, é assim que se ensinou e foi aprendido. É a tradição, oras! E o discurso da tradição, muitas vezes construído de cima para baixo para manter alguém subjugado a outro não pode ser questionado. Quem ousa sair desse padrão, pode ser vítima de alguns “corretivos sociais''.

 

Ao mostrar o discurso-outro, Sakamoto atualiza essa memória, apontando que o “homem chegou ao fundo do poço” ao precisar violentar a mulher, seja física ou psicologicamente, para legitimar sua posição na sociedade. A falta de “amor próprio” faz com que o homem use de um discurso da violência para subjugar a mulher e dizer que esta não tem outra posição na sociedade a não ser a de objeto de prazer e submissão do/ao homem. Como forma de confrontar esse poder masculino sobre a mulher, a revista VIP divulga, em sua página do Facebook, a matéria “No carnaval, assédio não pode ser fantasia”. Essa matéria será compartilhada na página do Facebook da Marcha das Vadias do Rio de Janeiro.

No comentário da Marcha das Vadias acerca desse artigo – “Muito bom. Já que o povo que lê a VIP não acompanha a gente uma mensagem direta pro Carnaval” –, ficam marcadas certas relações entre homens e mulheres. Por ser uma página feminista do movimento Marcha das Vadias, o site não será lido, como colocam, por homens que