As ruas comerciais, o consumo e a vida social urbana: o universo dos ateliês da Rua Dias Ferreira


resumo resumo

Sílvia Borges Corrêa



algumas entrevistadas revelaram, são lojas que têm um “clima de ateliê”. “Clima de ateliê” significa que o espaço é intimista e acolhedor, que a relação entre comerciantes e consumidores é muito próxima – que muitos afirmam ser uma relação de amizade, e que os produtos são exclusivos, personalizados e/ou de produção limitada.

Assim, utilizar o termo ateliê, em vez de loja, pode se revelar um atrativo especial, como fica claro no informe publicitário de um dos prédios, que se intitula como o “QG dos ateliês mais sofisticados e despretensiosos da cidade. (...) é um verdadeiro recanto tradicional com perfume fashion no coração do Leblon” (3R Studio Comunicação, s/d, p. 3 e 4). Já o folder de uma loja de sapatos instalada naquele prédio fala em “endereço mais charmoso do Rio”.

Em relação ao espaço físico dos ateliês, o tamanho das salas varia entre 30 e 40 metros quadrados, e há claramente uma preocupação com a decoração do ambiente: paredes pintadas com cores marcantes ou decoradas com papéis de parede floridos e estampados; cortinas; espelhos; puffs; enfim, elementos que possam dar ao ambiente uma atmosfera de “luxo e despojamento”, nas palavras de uma entrevistada. Alguns ateliês são descritos por seus proprietários como um “ambiente que insere o luxo no clima despojado da cidade”; outros fazem questão de destacar o clima “aconchegante, como a casa de uma amiga”, numa clara e referida oposição a “loja de shopping”, categoria frequentemente utilizada como contraponto à categoria “ateliê”, que seria um tipo de loja na qual o atendimento é cuidadoso e atencioso, e que, do ponto de vista desses profissionais, não é possível oferecer em lojas mais movimentadas – e nem mesmo nas lojas mais sofisticadas – instaladas em shopping centers.

Com relação aos horários de funcionamento dos ateliês, há bastante flexibilidade, mas a maioria costuma abrir às 10 horas – alguns só abrem após as 12 horas – e permanecer aberta até as 19 ou 20 horas, de segunda a sexta-feira, e até as 14 horas aos sábados. Ainda em referência aos horários e ao tipo de atendimento dispensado aos clientes, elementos interessantes de serem observados são as pequenas placas com a inscrição “Volto logo” – algo típico dos antigos estabelecimentos comerciais de bairro ou de cidades de interior – afixadas às portas dos ateliês quando a ausência do comerciante é necessária, e isso acontece porque em muitos ateliês há apenas uma pessoa trabalhando. Esse recurso é mais frequentemente utilizado nos intervalos para almoço e, em alguns casos, há o cuidado de registrar nessas placas um número de celular através do qual os clientes podem entrar em contato com os comerciantes durante o período em que o ateliê permanece fechado.