“No carnaval a fantasia é minha. O corpo é meu”: memória e rupturas feministas na folia


resumo resumo

Dantielli Assumpção Garcia
Lucília Maria Abrahão e Sousa



leem a revista VIP. Para a Marcha, os homens que leem essa revista, em geral, são machistas ou não apoiam as causas feministas. A VIP é uma revista direcionada ao público masculino e contará com artigos sobre futebol, dinheiro, diversão e mulher. Essa publicação, com um gesto de ruptura, busca produzir outros dizeres sobre a mulher, o homem e o carnaval. Com o slogan “Não seja um escroto neste carnaval, vai formulando e atualizando dizeres que questionam certas atitudes masculinas, vistas como naturais, diante do sexo oposto. A matéria foi escrita pela jornalista Juliana Faria, a qual criou a campanha “Chega de Fiu Fiu” e o site “Think Olga”. Um gesto de ruptura da revista VIP está em convidar uma feminista para escrever em uma revista direcionada ao público masculino que vê, muitas vezes, a mulher como objeto. A publicação tentará romper com esse imaginário que circula em nossa sociedade.

A matéria da revista é constituída por meio de um discurso da interdição, dizendo ao homem o que ele pode e o que não pode fazer no carnaval e com a mulher. Além disso, traz também à formulação um discurso estatístico que busca mostrar por meio dos números os vários casos de violência contra a mulher. A revista VIP coloca-se contra essa violência, ressaltando ao homem que este pode ter fantasias, mas não a do assédio, da violência, isto é, o homem pode fantasiar-se do que quiser, menos de homem violento, que sente prazer em assediar a mulher. Se ele decidir assediar, estará sendo um “escroto”, um homem sem valor. A campanha é para o carnaval, todavia, a revista espera que, após essa festividade, os homens continuem respeitando as mulheres, pois estas agradecem. Ao dizer que as mulheres agradecem o fato do homem respeitá-las, parece que os homens fazem um favor ao sexo oposto e não mudam realmente suas atitudes. Na fantasia, os homens mudam, porém, na realidade, ainda teriam comportamentos violentos:

(8) No carnaval, assédio não pode ser fantasia

Mais de 80% das mulheres não gostam de receber as tais cantadas na rua. Cerca de 90% delas já deixaram de fazer alguma coisa por medo de assédio. 85% já sofreram com estranhos passando a mão em seus corpos. O site da VIP convidou a jornalista responsável pela campanha Chega de Fiu Fiu para reforçar nosso coro: não seja um escroto neste carnaval. E nem depois. As mulheres agradecem

 

Nesse texto, a imagem da mulher é a da vítima violentada, mas que, socialmente, aparece como figurante na encenação do carnaval. O homem é o galanteador, o que conta vantagem por ter assediado a mulher. O homem vê o assédio como algo “normal” – pois os filmes, a publicidade, os amigos sustentam esse sentido – e o que texto atualiza é a não naturalização da violência contra a mulher: