Arquitetura das igrejas: gestos metafóricos e metonímicos que materializam desejos inconscientes


resumo resumo

Olimpia Maluf-Souza
Fernanda Surubi Fernandes



Na própria história de construção da Catedral de Cáceres-MT temos a realidade e a fantasia entrelaçadas, pois, demorou mais de quarenta anos para ficar pronta, sofrendo durante esse tempo duas quedas das estruturas basilares. Isso permitiu, como já dissemos, a produção de lendas, a partir das quais o mal se fez representar por uma serpente[1]. Portanto, estar dentro da Igreja estabelece o lugar do sagrado e do profano, pois os efeitos que são produzidos são os de que é a Igreja que permite que o mal continue aprisionado, mas, ao mesmo tempo, esse mal tão próximo produz, ali tão presente, o horror, o temor, sendo uma lembrança constante de que o povo não pode perder a fé. Ou seja, ao mesmo tempo em que se tem sob os pés uma serpente que representa todo o mal, tem-se nas colunas, nas imagens de santos e nas abóbodas da Catedral a representação de toda a santidade, da vida eterna buscada pelo homem.

Assim, por mais que seja uma réplica da Notre Dame, a Catedral deslocou, produziu novos efeitos, pois possui na sua história, na sua estrutura, efeitos da fé do povo cacerense que mantém na sua edificação a representação medieval do inferno de Dante, tornando-a mais grandiosa que sua própria estrutura.

Outro ponto importante se coloca em relação ao lugar no qual a Igreja é construída, pois isso significa em relação à sociedade.

Para Orlandi (2010, p.1), “[...] a territorialidade, traz a ideia de controle: tentativa de influenciar e controlar as ações alheias através do reforço do controle sobre uma área e os objetos nela contidos (Sack, 1983, apud Mc Andrew, 1993)”. A autora (idem) propõe acrescentar a essa reflexão não só os objetos, mas também os sujeitos.

Nessa relação, percebe-se como a territorialidade da Igreja interpela e constitui os sujeitos, pois o espaçamento é importante para essa significação. A Catedral, como tantas outras igrejas, constituiu-se no centro da cidade, possuindo uma praça em frente, além disso, logo em frente temos as margens esquerdas do Rio Paraguai, lugar de onde a cidade foi sendo construída. Essa memória produz efeitos tanto sobre a noção de bem – a devoção e a fé – quanto sobre a noção de mal – a lenda de que falamos anteriormente.

A lenda institui o povo e a cidade na relação com o sagrado, pois torna-se um conto de origem, pois é às margens esquerda que nasce a princezinha do Rio Paraguai – Cáceres – que vai se aflorando, se constituindo, e, para além dos avanços da urbanidade,

O demônio é, muitas vezes, nas próprias escrituras sagradas, representado por uma serpente. Assim, temos, como exemplo, a tentação de Eva e Adão por uma serpente que os convenceu à desobediência e a imagens de santos que transcendem o mal – representado pelo esmagamento de víboras – para ganhar a vida eterna.



[1] O demônio é, muitas vezes, nas próprias escrituras sagradas, representado por uma serpente. Assim, temos, como exemplo, a tentação de Eva e Adão por uma serpente que os convenceu à desobediência e a imagens de santos que transcendem o mal – representado pelo esmagamento de víboras – para ganhar a vida eterna.