“No carnaval a fantasia é minha. O corpo é meu”: memória e rupturas feministas na folia


resumo resumo

Dantielli Assumpção Garcia
Lucília Maria Abrahão e Sousa



coisas, que não pode agir como queria e sim o homem. O homem que não pode ser machista, que não pode ser “escroto”, que não pode ser violento.

A Marcha das Vadias de São Paulo compartilhará em sua página do Facebook uma campanha do coletivo Acontece Comigo que também tentará romper com certos sentidos estabilizados sobre a relação mulher-carnaval-homem-sociedade. Indo à página Acontece Comigo vemos um convite direcionado às mulheres para participarem da campanha “Pelo fim da violência e assédio sexual no carnaval”. Temos assim um convite à militância pelo espaço digital. A cibermilitância se dará pelo envio de textos para a campanha e pelos compartilhamentos em outras páginas do Facebook.

O pedido do movimento é para que as mulheres enviem relatos se já vivenciaram ou presenciaram algum tipo de violência no carnaval. Essa campanha passará a circular nas páginas do Facebook. Todos os relatos mostram situações de violência contra a mulher no espetáculo do carnaval. O discurso formulado pelo coletivo busca romper com um discurso que naturaliza a violência contra as mulheres no carnaval, o qual reproduz que o corpo da mulher é de todos nessa festa. A formulação tenta romper com essa memória, atualizando-a com a formulação: “No carnaval, a fantasia é minha. O corpo é meu”. Mostra-se, dessa forma, que a mulher detém o poder sobre seu corpo e não a sociedade, o homem como esperam que a mulher acredite.

Na campanha, há o confronto entre um imaginário e um real, de acordo com o movimento feminista, acerca do carnaval. A memória da folia nos remete ao momento da “liberdade sexual” em que todos podem “vestir fantasias e espalhar pelo espaço público”. Contudo, esse “todos” não inclui a mulher, uma vez que “os homens entendem como liberdade sexual a possibilidade de exercer seu desejo independente da vontade alheia. Aproveitam da multidão e do suposto clima de liberdade para assediar e abusar de mulheres que tentam se divertir. No espaço público, não é dado à mulher o direito de divertir-se, esta fica até amedrontada de permanecer e conviver no espaço urbano. A essa, no espaço da cidade, só resta uma violência legitimada pela sociedade, que vê na mulher livre (esteja ela “bêbada, chapada” ou não) o direito de abusá-la: “Entendem os corpos femininos, principalmente de mulheres bêbadas ou chapadas, como disponíveis e prontos para suprir suas vontades”. A ruptura, produzida pelo coletivo e que circulará em outras páginas feministas, está em mostrar um deslizamento de sentido sobre o carnaval. Na memória, o carnaval é libertador, tudo é permitido na folia; na atualização dessa memória pelo movimento feminista, o carnaval é opressor, aprisiona a mulher e seus desejos, uma vez que é sustentado por uma sociedade machista. Assim,