“No carnaval a fantasia é minha. O corpo é meu”: memória e rupturas feministas na folia


resumo resumo

Dantielli Assumpção Garcia
Lucília Maria Abrahão e Sousa



a violência tem uma inscrição sócio-histórica bastante forte e acentuada e se os sentidos de violência são regularizados e legitimados em “pequenos atos”, em “brincadeiras”, em coisas tidas como normais, os discursos que estamos analisando dão um basta, estabelecem um corte, rompem com a manutenção do mesmo, fazem acontecimento.

Portanto, neste artigo, buscamos mostrar como os movimentos feministas atualizam sentidos acerca da relação mulher-carnaval-homem-sociedade. Ao retomar certas memórias sobre essa festa popular, os discursos feministas explicitam como a sociedade violenta a mulher ao dizer que na folia tudo é permitido. As campanhas apontam para uma posição-sujeito-mulher que a sociedade tenta silenciar: a mulher-livre, que quer se divertir, que tem poder sobre seu corpo, que não quer ser objeto sexual, que não quer atrair gringo para o carnaval. Ao negar/interditar certos sentidos atribuídos à mulher, os movimentos feministas afirmam/legitimam uma posição ao “segundo sexo”, fundam um acontecimento discursivo em que se interdita o homem, evidenciando a este o que ele pode ou não fazer em sociedade. Na atualização de um dizer, não é a mulher que não pode agir no espaço público, mas sim o homem. Rompe-se, assim, a memória de que o homem pode tudo e à mulher só lhe resta submeter-se à sociedade patriarcal. Nos posts sobre o carnaval, a mulher é empoderada e o homem é visto como violento por não respeitar a mulher e não ter amor próprio.

 

Referências Bibliográficas

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