Arquitetura das igrejas: gestos metafóricos e metonímicos que materializam desejos inconscientes


resumo resumo

Olimpia Maluf-Souza
Fernanda Surubi Fernandes



Desde que propusemos o Grupo de Pesquisa Vozes da Cidade (2008, CNPq), temos tentado fazer a escuta de diferentes espaços de significação do urbano, com os consequentes modos de identificação e de subjetivação dos sujeitos no espaço citadino. Assim, tomamos, em Cáceres-MT, os “moradores autorizados”, os desviantes (moradores de rua, prostitutas, presidiários, etc.), o rio Paraguai, as lendas urbanas, os casarios do centro histórico e os monumentos, tentando compreender como essas materialidades discursivas instituem os sujeitos e os sentidos na cidade. Mais recentemente, temos nos ocupado em tentar compreender os sentidos que a arquitetura reserva para a cidade.

Nesse entendimento, tomamos o que é da ordem do urbano, ressaltando, nesse espaço, o sujeito, pois, conforme defende Brandão (1999, p. 23), “[...] o surgimento do homem moderno é um marco que altera a produção artística e teórica [especialmente os sentidos da arquitetura nas cidades]”. Para o autor, a história da arquitetura divide-se em dois momentos: um em que os edifícios imitam o Universo (mímesis) e o outro em que há uma progressiva expansão da subjetividade, pelos sentidos de autonomia e infinitude do homem.

Na tentativa de compreender os discursos postos em circulação pelas arquiteturas, os seus modos de determinação dos sentidos e dos sujeitos na vida citadina, passamos a tomá-las como imagem especular do homem, ou seja, como metáforas que se instituem como objetos metonímicos dos desejos inconscientes do sujeito, ou, dito de outro modo, tomamos a arquitetura, nesse estudo, particularmente, a das igrejas, como manifestações metafóricas do sentido e manifestações metonímicas do desejo, pois, segundo Lacan (1999), a metáfora dirige-se para o sentido, enquanto a metonímia para o objeto, que é sublimado para tamponar o que é da ordem do desejo. Nessa direção, o autor (idem) afirma que há entre o significante (cadeia simbólica) e o significado (sentido) um deslizamento recíproco, de modo a que o deslocamento de um produza o deslocamento do outro, pois o discurso não é um evento puntiforme, pontual, ou seja, não é apenas uma matéria, uma textura, mas requer tempo, uma dimensão no tempo, uma espessura. Assim, a cadeia significante é permeável aos efeitos próprios da metáfora e da metonímia, que atualizam todos os efeitos significantes, tanto no nível fonemático quanto no fonológico, fundando o trocadilho, o jogo de palavras, com os quais opera o analista. 

Lacan (1999) divide o campo da enunciação em duas dimensões: a do discurso racional, fixo, estável, evidente, no qual se inscreve o discurso corrente com sua