FICA na rua: arte, cultura e poéticas de apropriação de espaço urbano


resumo resumo

Paulo Cezar Nunes Junior
Janir Coutinho Batista



só pode ser concretizado na relação com o espaço pensado, que apropriado de forma autêntica, revela uma potente via de transgressão do uso definido a priori.

Portanto, por meio das experiências vivenciadas no Festival Integrado de Cultura e Arte (FICA), lançamos mão de um debate que busca evidenciar a cidade como lugar de lazeres, de possibilidades/multiplicidades de uso e não apenas como pontos estanques de funcionamento de um sistema planejado segundo normas e regras definidas. Além disso, colocamos o foco nos fazeres artísticos, pois a nosso ver, estes se revelam como uma potente via de diálogo entre sujeito/espaço e são capazes de estabelecer um novo relacional.

 

Cidade, urbanismo e urbanidade

A atual configuração das cidades é fruto de uma organização produtiva fomentada pelo industrialismo do século XVIII, quando as noções de tempo e de espaço começam a tomar forma segundo a rotina que o novo sistema de trabalho demandava (PADILHA, 2003). Não por acaso, é nesta época que surge o termo lazer (do latim licére - aquilo que é lícito): era preciso separar as boas práticas que pudessem preparar o sujeito para voltar ao turno de trabalho dos vícios da bebida e de outros resquícios de ócio da Idade Média.

De modo geral, as definições das condutas lícitas foram colocadas em circulação tanto pela proibição/permissão de hábitos quanto pelo desenho do espaço urbano e condições de habitação/circulação que começariam a ser agenciadas de forma mais sistematizada pela ciência do urbanismo. Conforme anuncia Foucault (1982) a cidade e suas instituições passaram a criar dispositivos disciplinares e modos de vigilância que implicaram na reestruturação dos padrões de sociabilidades e no esquadrinhamento do espaço urbano. Segundo o autor, sentiu-se a necessidade, ao menos nas grandes cidades, de constituir a cidade como unidade, de organizar o corpo urbano de modo coerente, homogêneo, dependendo de um poder único e bem regulamentado (FOUCAULT, 1982, p.86).