Arquitetura das igrejas: gestos metafóricos e metonímicos que materializam desejos inconscientes


resumo resumo

Olimpia Maluf-Souza
Fernanda Surubi Fernandes



linearidade, com o sentido como que dado. Nessa dimensão, temos o discurso vazio, enquanto função da fala, enquanto campo da linguagem, ou seja, trata-se do discurso concreto, discurso do sujeito individual. Essa dimensão é designada na Análise de Discurso como sendo o campo do intradiscurso, um campo por onde fala o sujeito empírico, iludido por esquecimentos[1] que o faz crer que seu dizer é a origem e tem apenas um único sentido.

A outra dimensão do campo da enunciação, segundo Lacan (1999), inclui as possibilidades de decomposição, de reinterpretação, de ressonância, de efeitos metafóricos e metonímicos, é a linha por onde se institui o sujeito desejante que, pelos furos na linguagem, irrompe e faz apresentar-se o grande Outro, enquanto companheiro de linguagem, que faz com que a língua seja viva. De acordo com o autor (idem), uma linha é inversa à outra, embora uma, permanentemente, deslize sobre a outra, de modo a que uma corte a outra em dois pontos perfeitamente reconhecíveis: o da manifestação do Outro e o do ponto de chegada, o ponto da significação. Nessa direção, se não houvesse o atravessamento do dizer pela cadeia significante, o que se formularia seria da ordem de um “[...] puro e simples ronronar de repetições, um moinho de palavras [...]” (LACAN, 1999, p. 20). A Análise de Discurso toma este atravessamento da cadeia significante como sendo um funcionamento da ordem do interdiscurso: “[...] todo complexo com dominantes das formações discursivas[2], [...] submetido à lei de desigualdade-subordinação-contradição que [...] caracteriza o complexo das formações ideológicas” (PÊCHEUX, 1997, p. 162).

Desse modo, podemos dizer que enquanto a Psicanálise busca a cadeia significante, a Análise de Discurso busca o sentido dado pela relação necessária da língua com a história. Como veremos os sentidos produzidos pela análise das Igrejas, principalmente o da Catedral de Cáceres-MT significa para o povo cacerense, lugar de segurança, de fé, e de encontro com a vida após a morte, pois é através de um interdiscurso sobre a história da igreja, que as formulações atuais continuam a produzir seus efeitos do/para o povo cacerense.

 

Pêcheux (1997, p. 162) afirma que “[...] o próprio de toda formação discursiva é dissimular, na transparência do sentido que nela se forma, a objetividade material contraditória do interdiscurso, que determina essa formação discursiva”. Essa objetividade material, segundo o autor, reside no fato de que quem fala, inscreve-se o seu dizer em uma anterioridade, que vem de um outro lugar e que independe, portanto, da vontade e da determinação do falante.



[1] Tomamos os dois esquecimentos, conforme descreve Pêcheux (1997, p.183, NR. 33), como “[...] acobertamento da causa do sujeito no próprio interior de seu efeito”. Assim, o esquecimento número 1 é da ordem da ideologia, que interpela o indivíduo em sujeito, e o número 2, que é da ordem da enunciação, pois o sujeito “esquece” que ele não é a fonte e nem a origem do dizer.

[2] Pêcheux (1997, p. 162) afirma que “[...] o próprio de toda formação discursiva é dissimular, na transparência do sentido que nela se forma, a objetividade material contraditória do interdiscurso, que determina essa formação discursiva”. Essa objetividade material, segundo o autor, reside no fato de que quem fala, inscreve-se o seu dizer em uma anterioridade, que vem de um outro lugar e que independe, portanto, da vontade e da determinação do falante.