Uma análise discursiva da veiculação das manifestações de junho de 2013 pela revista Veja


resumo resumo

Raquel Noronha



A AD se constitui, de acordo com Pêcheux e Fuchs ([1975] 1997), numa articulação de três regiões, a Linguí­stica – “como teoria dos mecanismos sintáticos e dos processos de enunciação ao mesmo tempo” (PÊCHEUX & FUCHS, 1997, 163); o materialismo histórico – “como teoria das formações sociais e de suas transformações, compreendida aí­ a teoria das ideologias” (loc. cit.); e a “teoria do discurso, como teoria da determinação histórica dos processos semânticos” (op.Cit.,164). Estas regiões são atravessadas e articuladas por uma “teoria da subjetividade” proveniente da psicanálise.

A AD leva em conta a exterioridade do texto, ou seja as Condições Produção que lhe possibilitam produzir sentido. A análise ultrapassa o estudo puramente linguístico. O discurso, objeto da AD, é a um só tempo integralmente linguístico e integralmente histórico. Trata-se de um espaço teórico no qual se pode depreender a relação entre a língua, enquanto sistema de signos, e a ideologia, enquanto determinação histórica do sentido.

Os sentidos não estão já-lá; mas são construídos historicamente, e só significam porque já significaram antes. Os sujeitos não têm, portanto, “controle” sobre o que dizem e nem são origem do dizer; eles ocupam diferentes posições a partir das diferentes formações discursivas em que se inscrevem. O dizer não é neutro porque está inscrito em formações discursivas constituídas por famílias parafrásticas que determinam não só aquilo que pode/ deve ser dito, como também a maneira como se enuncia de uma determinada formação discursiva (FD). A inscrição do sujeito numa determinada FD, a um só tempo, interpreta o lugar social, e influi sobre este produzindo um imaginário acerca de uma inscrição adequada nestes lugares,

 

...esses lugares estão representados nos processos discursivos em que estão colocados em jogo. Entretanto, seria ingênuo supor que o lugar como feixe de traços objetivos funciona como tal no interior do processo discursivo; ele se encontra aí representado, isto é, presente, mas transformado; em outros termos, o que funciona nos processos discursivos é uma série de formações imaginárias que designam o lugar que A e B se atribuem cada um a si e ao outro, a imagem que eles se fazem de seu próprio lugar e do lugar do outro. (…) O que podemos dizer é apenas que todo processo discursivo supõe a existência dessas formações imaginárias. (PÊCHEUX, [1969], 1997)

 

O discurso não pode ser atravessado. A sua materialidade é analisada a partir de FDs (matrizes do sentido) e formações ideológicas, que dizem respeito à representação do sujeito ao se inscrever em um lugar social para falar. Não há neutralidade, porque o dizer sempre poderia ser outro.