Da relação sujeito, religião e estado: O discurso da liberdade e das letras na cidade


resumo resumo

Eliana de Almeida



Francesa, da modernidade, no limiar dos séculos XVIII e XIX, de liberdade, fraternidade, igualdade na Europa.

No Brasil, os anos 20 e 30 do século passado foram o cenário da hegemonia daquele discurso, dadas as relações de poder estabelecidas entre Igreja e Estado, como vemos nas formulações que introduzem o documentário Iepê: há 90 anos uma Terra para Todos (2013), que narra:

 

A cidade de Iepê nasceu por um sonho de liberdade e por uma cultura de paz em 23 de abril de 1923. Não era intenção de seus pioneiros fundarem uma cidade, mas impulsionados pelo desejo e pela necessidade de igualdade, liberdade e paz esses sonhadores e determinados sertanejos plantaram e nos deixaram como frutos: seus ideais e uma cidade, originalmente chamada Liberdade, nas terras vermelhas do Oeste Paulista.

 

Pela relação entre sujeito e linguagem, conforme suposta discursivamente, Iepê produz um excesso significante pela própria falta constitutiva que a estrutura enquanto cidade: um regime de Estado de direito que não administra, não organiza no Brasil os ideais republicanos, pela defesa dos direitos, de liberdade de expressão e de culto. Nessa narrativa, salientamos os enunciados que definem Iepê sob uma ordem discursiva outra em relação a São Roque, ou seja, circunscreve Iepê como espaço de liberdade, como vemos em /Iepê nasceu por um sonho de liberdade/; /Iepê nasceu [...] por uma cultura de paz/; /pela necessidade de igualdade, liberdade e paz desses sonhadores/; /uma cidade, originalmente chamada Liberdade/; O termo que nomeia a cidade, vindo do Tupi-guarani[8], a constroi sob a égide da modernidade, também conforme narra a filha de Chico Maria, um dos fundadores de Iepê-SP:

 

Quando criou o patrimônio de Iepê, o Antonio Prado que é meu primo, Antonio de Almeida Prado

 



[8] Embora o vilarejo fosse a princípio chamado Liberdade e as narrativas que sustentam a história da cidade afirmem a origem do nome Iepê como vindo do tupi-guarani, significando liberdade, não encontramos qualquer referência etimológica que o reafirme (LEONTSINIS, Alexandre. O Tupi: nossa linguagem ecológica. Biblioteca Stassa Leontsinis. Rio de Janeiro, 2003; FERREIRA, Moacyr Costa. Dicionário Morfológico Tupi-Guarani. 3ª. Ed. Revisada e Ampliada. São Paulo, Edicon, 2007; KAKUMASU, James Y. e KAKUMASU, Kiyoko. Dicionários por tópicos: Urubu-Kaapor Português. Fundação Nacional do Índio – FUNAI – Summer Institute of Linguistics – SIL, Brasília-DF, 1998). Encontramos variações de escrita e significação do termo, como em ojepé iepé designando ele sozinho ou o numeral 1, conforme o site http://www.girafamania.com.br/girafas /lingua_guarani.html. Ainda, o nome Iepé aparece no site http://www.institutoiepe.org.br/sobre-o-iepe/ como um termo “tradicionalmente utilizado pelos grupos indígenas das Guianas para designar o amigo e parceiro de troca nas suas redes de intercâmbio”. Não obstante a isso, nos valemos das narrativas em circulação sobre a cidade, trazendo a relação semântica de liberdade para o nome Iepê.

[7] Fundador homenageado, cujo nome foi dado ao Colégio Estadual de Iepê-SP.