Arquitetura das igrejas: gestos metafóricos e metonímicos que materializam desejos inconscientes


resumo resumo

Olimpia Maluf-Souza
Fernanda Surubi Fernandes



Mas, há, nas edificações da cidade, espaços outros que deixam escapar outra ordem de desejo que, indo para muito além da demanda e da necessidade mercadológica, instala o espaço da espiritualidade humana. Esse funcionamento coloca, para todas as cidades, uma oposição que se instala como contradição, pois, no espaço mesmo do que é ditado pelo mercado, coabita o espaço das igrejas, o espaço dedicado à espiritualidade.

É, pois, essa oposição instalada como contradição que marca o nosso interesse pela arquitetura das igrejas que, erigidas no espaço da cidade, são representações simbólicas de uma outra ordem de desejo do homem, configurando-se em espaços outros de funcionamento dentro da lógica de concepção mercadológica de edificação do urbano: o espaço do sagrado, da transcendência material, o espaço da santidade e da santificação do humano.

É, pois, pela estrutura das igrejas que nos assujeitamos e somos colocados ao encontro de algo maior. É esse fato que explica o que sentimos ao adentrar em uma igreja, ao sermos tomados pelo silêncio que ali reina, pela sensação de paz, de descanso e de conforto. A Catedral de Cáceres-MT, apesar de ficar no centro de uma cidade de médio porte, que tem toda uma movimentação e um barulho próprio do urbano, mantém o propósito que sustenta a edificação de qualquer igreja: se colocar como o elo entre o homem e Deus, entre o homem e a vida após a morte.

A busca pelo espaço sagrado da igreja faz com que o homem entre em contato, se prepare, se convença de uma vida após a morte. Trata-se de buscar uma “vida” que, para vivê-la, é preciso morrer – o fim último de todos os homens. A busca pela espiritualidade é, então, a busca pela morte. A “boa morte” de que nos fala Le Goff (2003), pois, morrer com Deus é viver, em uma outra instância, na eternidade.

Freud (1920/1974) ao descrever o princípio do prazer, o coloca em duas direções, uma que evita o desprazer e outra que busca o prazer. Desse modo, a certeza da morte pelo ser humano, cumprindo o ciclo biológico de nascer, desenvolver, reproduzir e morrer, foi talvez a certeza mais desagradável para o homem, assim, ele precisou pensar em mecanismos que tornassem essa certeza menos dolorosa, então, erigiu igrejas, como um para-além do princípio do prazer. Ou seja, ao edificar as igrejas o homem constituiu um objeto metonímico do seu desejo, atingindo-o apenas de forma aproximada, visto que o objetivo de fuga absoluta ao desprazer nem sempre pode ser atingido no sentido de uma tendência ao prazer. Assim, a compulsão de repetição pela